terça-feira, 31 de dezembro de 2013

PULP FICTION: TEMPOS DE VIOLÊNCIA




            Pulp Fiction (1994) de Quentin Tarantino é o tipo de filme que gosto de quase tudo, dos diálogos, dos atores, da música e sobretudo, da irreverência sarcástica. São os diálogos que conduzem o filme. O boxeador profissional Butch (Bruce William) acaba de matar um homem no ringue e vai para o hotel onde está sua namorada, ele tem que fugir dos pistoleiros (Samuel L. Jackson e Jonh Travolta)do gângster Marcelus, ganhou dinheiro, mas só consegue salvar sua vida se conseguir fugir deles. Nesse momento de desespero, o diálogo entre Butch e a namorada não é óbvio, ela fala de coisas inusitadas como a vontade de ter uma barriga.



            Se fosse num enredo convencional, Butch falaria para ela o que estava acontecendo, e o diálogo seria conduzido pelo enredo. A conversa é aparentemente irrelevante para estabelecer a personalidade dela e o relacionamento entre eles. É uma diálogo sempre cheio de alusões.



            Os diálogos preparam para as cenas vindouras, como a discussão banal sobre um sanduiche de queijo, para falar de como Marcelus atirou num homem do quarto andar porque ele massageou os pés de sua mulher. Essa é a preparação que Tarantino faz para quando Vicent (Jonh Travolta), leva Mia (Uma Thurman), para sair e ela acidentalmente sofre uma overdose e ressuscita no fornecedor de drogas de Vicent com uma injeção de adrenalina no coração. Imaginei que essa cena seria repulsiva, mas na verdade não o momento da agulha entrando é cortado e atenção é desviada para os espectadores, uma cena grotesca acaba virando comédia.



            O que mais gosto é que Tarantino usa o tempo todo, planos gerais abertos, surpresas, cortes, e o contexto do diálogo para o filme parecer menos violento do que ele realmente é. Brinca com a cronologia, o assalto ao restaurante inicia e fecha o filme, e outras linhas de história entra em sai sem nenhum sentido cronológico.




            Para mim, a grandeza do filme está nos personagens originais (essencialmente cômicos), uma série de eventos vivos e meio fantasiosos, e fundamentalmente pelo diálogo que é a base de todo o filme. Os personagens de Pulp Fiction estão sempre falando e são sempre interessantes, engraçados, assustadores ou audaciosos. Digo sem medo de errar, filme de violência que mesmo carregado de tensão consegue passar uma diversão incrível como na cena em que Jonh Travolta e Uma Thurman dançam no concurso de Twister. Diversão cinematográfica das melhores.
            

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

ENTENDENDO NIETZSCHE



Fico pensando por que Nietzsche vende tanto já que é um filósofo tão erudito e as pessoas compram mesmo que não consigam acompanhar. Quando você se relaciona com o seu pensamento uma coisa que é evidente desde o inicio é a sua crítica a história da filosofia. Nietzsche é um pensador do século XIX, período marcado por uma euforia moderna, que vende a ideia de que no futuro o mundo será melhor. A ciência e o pensamento seriam veículos de transformação social.



Nietzsche estudava os pré-socráticos que fundamentavam seu pensamento no devir que seria a vida como processo de transformação constante, mostrando que tudo muda o tempo inteiro, nada é fixo.  Filho de pastor protestante, ele está inserido numa cultura cristã extremamente forte. Seu pensamento foi extremamente marcado por três elementos: modernidade, pensamento arcaico e cultura cristã.



Gosto do Nietzsche porque ele tira o antropocentrismo do homem e diz que somos vítimas do pensamento que cria um outro mundo para o homem além daquele que ele vive. Ele diferentemente dos pensadores de sua época não discute quem está com a verdade, mas para que e porque dá verdade. Ele diz que a verdade não é produto da curiosidade humana em saber como as coisas são, a verdade, é produto do nosso medo da morte, é o produto de uma necessidade psicológica de duração.



Ele entende que o pensamento cristão é uma forma de niilismo negativo, já que eu nego essa vida, em nome da outra. Na modernidade sob o aporte da ciência, o homem não quer mais morrer, então, a morte de Deus é o que marca a modernidade. Essa morte de Deus é a ideia de que quando a ciência nasce, a religião perde o valor, antes o homem rezava para se livrar das doenças, agora ele vai ao médico. Mesmo que esse homem, ainda acredite que Deus existe, esse é colocado em segundo plano, porque primeiro é o médico.



Nietzsche condenava os idealistas a quem afirmava que tentavam mudar o mundo através de sua filosofia pré-concebida, refugiando-se num mundo que nega a realidade que o cerca, eles não constroem uma filosofia a partir do mundo, que era o que ele pretendia, mas tentam mudar o mundo em que vivem. Vejo isso sendo comum na nossa contemporaneidade, você idealiza o filho, a profissão e a sua própria vida, embora esta nem de longe seja feita do ideal, mas somente daquilo que é possível.



Nietzsche entende que na nossa sociedade o que se estabeleceu foi o poder da fraqueza, já que a força estaria no enfrentamento das próprias contradições inerentes a vida humana. A sua grande sacada e nos fazer pensar a nós mesmos nessa vida exatamente como ela é, sem subterfúgios com dor e prazer, elementos centrais na caminhada da humanidade. 

domingo, 29 de dezembro de 2013

CARTIER: A DESLUMBRÂNCIA DO LUXO



            Vi em um canal da TV Francesa que estaria acontecendo uma exposição no Grand Palais em Paris com as joias consideradas clássicas da Casa Cartier, daí olhando fotos da exposição pensei o que é apresentado pode ser considerado arte? Já que a maioria de suas joias foram produzidas sob encomendas para as pessoas mais ricas e influentes do planeta. Pois é, já adianto que sim, as considero como art já que a mais de 7 mil anos a joalheria acompanha o progresso e as transformações culturais e religiosas da história do homem, que sempre buscou produzir objetos para se enfeitar e seduzir, satisfazer desejos, construir uma arte e significados dentro do seu tempo.



            As peças da Casa Cartier foram criadas com a função de ornar e satisfazer a vaidade. Assim como a arte, a joia está sujeita a releitura, criação e interpretação, pois possui, elementos visuais como forma, linha, cor e volume. Cartier se encontra no mercado a mais de 170 anos, e está relacionada ao luxo, que pode ser entendido como um elemento raro, precioso, desejável e na maioria das vezes caro e supérfluo, tem uma dimensão muito maior do que dinheiro, pois é anterior a existência a esse meio de troca. Saciar-se em banquetes abundantes de carnes e cobrir-se com a pele do animal mais selvagem, poderia ser considerado luxo em tempos primitivos.



            No consumo de luxo estão relacionados elementos como capital cultural, e capital simbólico, quem não tem nenhuma noção em relação a arte, por exemplo, não sabe apreciar nem compreender o valor de uma obra de arte comprada com um enorme capital econômico e ostentada em casa para demonstrar a detenção de um prestigiado capital simbólico. É como se o capital simbólico fosse composto de capital cultural e econômico ao mesmo tempo.



            A marca francesa Cartier é a mais antiga joalheria em atividade no mundo fundada por Louis François Cartier estabeleceu seu modesto negócio de joias em Paris em 1847. Com uma produção de joias elaboradas e extremamente caras, a marca começou a chamar atenção de membros das cortes reais. Em fins do século XIX a marca se rende a burguesia, como pessoas da família Rothschild (banqueiros que aconselhavam reis e governantes). Em 1902, com a coroação do Rei da Inglaterra Eduardo VII diversas famílias encomendaram seus diademas a Cartier e o próprio disse: Cartier: Joalheiro dos reis, rei dos joalheiros.



            No período das Guerras Mundiais a marca sobreviveu a custas da loja americana, conseguindo manter sua aura de distinção. Embora se aproximando mais de um caráter industrial e produzindo peças mais baratas como relogios de pulso. Nos anos 1960 a marca se associa a moda e cria produtos considerados mais úteis como isqueiros e cintos. Os clientes na modernidade mudaram de aristocracia, para quem brilha no cinema, e passa a ter a cara de Grace Kelly que usou um colar da marca em seu casamento com o principe de Mônaco.  A marca desde então não saiu da mídia e da massificação como o diamante da atriz Liz Taylor. E hoje as celebridades do cinema e da música.



            Ao contar pelo número de informações dadas ao luxo na mídia de modo geral, é uma válvula de escape tão indispensável à atividade humana quanto o repouso, a atividade esportiva, o amor e a oração. Quem não pode tê-lo, continua a ambicioná-lo e encontra alternativas para satisfazer esse desejo: seja através do mercado paralelo da falsificação, seja alugando por um dia jóias, vestidos e bolsas de marcas conhecidas em sites especializados.



            A grife Cartier, em sua trajetória sempre compreendeu os anseios sociais (ou habitus, se preferirmos) com relação ao luxo e age em duas vertentes, dando conta de suas principais manifestações (expressão de riqueza e satisfação de desejos). Na sociedade contemporânea, onde "parecer" é quase sinônimo de "ser", deve ser por isso o alto índice de público na exposição sobre a marca que chega também ao Brasil e de imitações de sua produção. As jóias são íconicas, mas o que se produz hoje apresenta sobretudo um caráter industrial e comercial, muito diferente das peças artesanais e artísticas elaboradas lá no século XIX.

sábado, 28 de dezembro de 2013

COMIDA COMO OBRA DE ARTE: A Nouvelle Cuisine Française



            Vendo fotos, lendo, experimentando pratos vejo que os cozinheiros sempre foram artistas, já que a cozinha é uma arte do tempo: tempo de preparo, duração dos cozimentos, cores e formas desenvolvidas de maneira tridimensional. Ela utiliza materiais e os manipula como suas irmãs ricas a arquitetura, a pintura e a escultura.



            Todas as operações realizadas na cozinha modificam significativamente a matéria, seja pelo tempo, pela textura, pela cor ou pela luz. Numa criação culinária os cinco sentidos são exigidos através do perfume, consistência, sabor, impressão visual e seus aspectos internos ou externos.



            O termo Nouvelle Cuisine foi criado em 1972 por jornalistas franceses especializados em gastronomia, era representado por um grupo de Chefes de talento formado pelos irmãos Troisgros, Paul Bocuse e Michel Gérard que, desde o início dos anos 1960, tinham entrado em conflito com a tradição da Haute Cuisine Française. O momento mais importante da produção não era mais a perfeita aplicação das regras, mas, a criatividade, a capacidade de inventar novas sensações, como frutas com carnes e peixes e sabores agridoces.



            Em contradição a cozinha clássica, a nouvelle Cuisine se afirma através do respeito a simplicidade dos sabores, a exaltação dos gostos e das cores originais dos alimentos utilizados, se valorizando sobretudo, a identidade sensorial dos alimentos. Esse novo jeito de cozinhar está relacionado a arte na medida em que reserva uma atenção a apresentação da comida, pelo detalhe, refinamento que apresentam os pratos como arte visual.



            O estilo é minimalista, as porções são pequenas e lembra o mundo das comidas japonesas. Os pratos são leves e delicados, o objetivo maior é a máxima satisfação de prazer pelos estímulos dos sentidos. Vale conhecer e principalmente experimentar: Bon a petit.