domingo, 3 de fevereiro de 2013

O QUE GILDA AINDA TEM A NOS DIZER




            Gilda (1946) é um desses filmes que se sabe quase tudo, mas nunca se vê, lembro que cresci vendo a imagem enigmática na velha Enciclopédia Britânica, daquele mulher de cabelos esvoaçantes num vestido preto de alta costura, uma luva numa mão e na outra um cigarro, com o título “nunca houve uma mulher como ela”. Essa semana, muito tempo depois comprei o filme e vi que o título do passado realmente faz jus a essa máxima e a toda a mitologia que se criou em torno da personagem.


            Antes de qualquer coisa é preciso pensar na Hollywood dos anos 1940, período que o cinema americano, viveu uma época imensamente lucrativa. O filme se passa em Buenos Aires na Argentina, mas nada da cidade é mostrada, o cassino é o cenário principal. A amizade entre os dois homens Johnny Farrell um aventureiro americano que vive na Argentina em busca de fortuna e torna-se o homem de confiança do dono do casino, Mudson, que no filme aparece com um ar meio lunático, é a base do enredo. Mudson aparece casado com Gilda, e logo de início dá para perceber que ela e Farrell já viveram algo no passado, Gilda faz de tudo para destruir a amizade dos dois, e o que achei mais intrigante é como a trama força sempre os dois a permanecerem juntos e essa tentativa forçada é banal e sem sentido.  


            O filme é cheio de estereótipos típicos da sociedade moralista da época, Gilda sai com homens, mas isso não há problema contado com que Mudson, o esposo não saiba. Apanha de Farrell o novo marido, após se pensar que o primeiro tinha morrido, e ainda assim se sugere que ela não traiu ambos. Além da dubiedade embora sutil, da relação entre os dois personagens masculinos. Além da fumaça constante dos cigarros que em várias cenas.


            Mas o forte do filme é mesmo a figura de Rita Hayworth, na época com 28 anos, sua sensualidade é explícita e antes dela no cinema nunca tinha aparecido uma mulher capaz de ser o eixo central do filme e prender as plateias do início ao fim. Fiquei meio sufocada com os cenários fechados e claustrofóbicos do filme, nem uma cena se passa a luz do dia. Mas vale a pena a fotografia de cunho noir, os cenários art decó e sobretudo o número em que Gilda canta e dança Put the Blame a Meme. 

Um comentário:

  1. Não sei se é bem isso... "se ela tem algo a nos dizer"... talvez fosse "algo a ouvir"

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