segunda-feira, 30 de junho de 2014

SIMONI DE BEAUVOIR: O QUE É SER MULHER?


Conheci a obra de Simoni de Beauvoir a muito tempo quando estava na faculdade de Serviço Social em especial O Segundo Sexo, lançado em 1949. Penso que seu texto continua tão atual quando da data de seu lançamento. Trazendo a máxima o que é ser mulher? que continua sendo uma pergunta atual, que deve ser feita por todas nós em algum momento da nossa vida. Ela tem uma das principais frases do movimento feminista não se nasce mulher, torna-se mulher.



A mulher não tem um destino biológico ela nasce numa cultura que define seu papel dentro da sociedade. Durante muito tempo as mulheres desempenharam o papel de mãe e esposa ocupando espaços como o casamento ou o convento. O interessante é que a própria Simoni, de origens burguesas, rompe esse papel ao se negar a ter um casamento arranjado e opta por uma vida de sucesso acadêmico.




O Segundo Sexo é uma obra de inspiração para conhecer o processo de construção em que as mulheres são criadas para ser inferiores aos homens. Acho que sua obra continua atual porque propõem a discussão democrática e a ruptura das estruturas psíquicas, sociais e políticas de um modelo de mulher pré- determinado. Trazendo para o debate o mais importante princípio: como as mulheres se enxergam? Seu trabalho jogou luz para a causa feminista. Hoje as mulheres podem ser o que desejarem independente das convenções sociais e dos modelos pré estabelecidos, embora ainda tenham que lutar para desmontar o preconceito das estruturas psíquicas da sociedade. 

terça-feira, 24 de junho de 2014

A MELHOR COMÉDIA DO CINEMA: QUANTO MAIS QUENTE MELHOR


            Quanto mais Quente Melhor de 1959 é uma comédia no estilo pastelão estrelada por Marilyn Monroe e Tony Curtis, impregnada de cinismo. Curtis acha que só quer sexo, Marilyn que está apenas interessada em dinheiro e eles, ficam espantados e encantados ao descobrir que a única coisa que querem é um ao outro. O enredo é a típica comédia de besteirol. Curtis e Lewis desempenham músicos de Chicago vestidos de mulher para fugir da máfia. Eles se agregam a uma banda feminina e lá conhecem Marilyn que está em busca de um milionário, Curtis se finge de milionário para conquista-la.


            O filme continua leve, divertido, com Marylin como cantora interpretando muito bem como no solo em que canta “I Wanna Be loved by you” em que ela transforma numa fascinante e ruidosa ambientação sexual. O interessante é que ela parece alheia a sua conotação sexual, pois canta inocentemente a sua música como se fosse a única verdade.


            Um fato curioso são as lendas que existem em torno do filme. Curtis dizia que beijar Marilyn era como beijar Hitler. Marilyn tinha enormes dificuldades para decorar as falas, com extravagâncias e neuroses. A história é sobre os músicos que se vestem de mulher, mas é ela quem rouba a cena. Lemmon o companheiro de Curtis é quem aparece numa das melhores cenas do filme. No dia seguinte a uma noite romântica com um milionário, e brincando com castanholas, diz que vai casar com este para ficar com a pensão, no melhor do segmento pastelão.



            O final é uma pérola, quando o milionário que vai casar com Lemmon descobre que ele é homem e Monroe que Curtis não é um milionário eles não se aborrecem e o clima divertido do filme permanece. Comédia que se mantém atual, vê-la hoje ainda é divertido, inteligente e cativante, mesmo para o nosso olhar contemporâneo bem mais sagaz do que o público da época em que o filme foi produzido.

domingo, 22 de junho de 2014

ÉDOUARD MONET PIONEIRO DAS ARTES MODERNAS


            Observando a obra do francês Édouard Monet  especialmente o quadro Piquenique no Bosque podemos ver uma distinta moça nua ao lado de dois rapazes. A obra traduz revolução tendo sido grande novidade do Salão dos rejeitados que reuniu pintores que não participaram do Salão de Belas Artes de 1863. A exposição reuniu grandes pintores daquele ano e contou com a participação do imperador Napoleão III que tratou a obra como atentado ao pudor.



            Na segunda metade do século XIX o nu não era novidade na pintura. A radicalidade de Manet foi colocar uma mulher de verdade sem roupa no quadro. Antes mulheres nuas eram deusas, semideusas ou obras que remetiam ao classicismo grego. A negação das convenções e sua busca por retratar uma nova liberdade para tratar de temas convencionais, talvez possa ser considerado como o ponto de partida da arte moderna.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

CHICO BUARQUE O CANTOR DAS MULHERES


            Desde o início do blog quando me propus a escrever sobre músicas e cantores que eu gosto numa opinião absolutamente pessoal, pensei em falar sobre Chico Buarque minha primeira e grande paixão musical. Chico para mim sempre foi tão grande que nunca soube por onde começar esse texto. Hoje no seu aniversário de 70 anos resolvi falar sobre o que considero que ele fez muito bem, que foi fazer música para as mulheres, assumindo um lirismo doce e feminino.


            A primeira música em que ele deu voz a mulher foi na primeira pessoa com “Com Açúcar com Afeto”, em 1966 encomendada por Nara Leão. A letra fala da mulher submissa que com amor e paciência espera o marido em casa. É bem verdade que na família enquanto crescia Chico conviveu mais com mulheres do que com homens. Chico nunca aceitou o lugar comum de que conhece bem a alma feminina, para ele o ser mulher é um grande mistério.


            Mas ele é um mestre na dificílima tarefa- de sendo homem- criar músicas que só ganham significado quando cantadas por mulheres, são aquelas que trazem tão forte a maneira feminina de viver as grandezas e torturas do amor apaixonado. A canção “Olhos nos Olhos” interpretada por Maria Betânia tornou-se um grande sucesso popular. Chico consegue tocar em regiões tão doloridas e sensíveis das pessoas com tal talento e delicadeza que o gosto amargo se dissolve em pura poesia.



            Poetas e escritores tem a capacidade de representar aquilo que não vivenciaram. Chico imaginou o trabalhador sem perspectivas de “Cotidiano” ou o operário desesperançado de “Construção” sem nunca ter sido uma coisa nem outra. Retratou a morena de Angola sem jamais tê-la visto. Assim descreveu tudo o que uma mulher sente ao ser abandonada em “Olhos nos Olhos” ou em “Atrás da Porta”, e carregou na tinta da emoção ao falar como a mãe pobre e ingênua do marginal de “O Meu Guri”. Grande Chico!

quarta-feira, 18 de junho de 2014

AH, OS BONS TEMPOS DE OUTRORA


            Vocês já devem ter ouvido falar em Ulisses, o herói da Odisseia. É aquele sujeito que depois da Guerra de Troia passou dez anos tentando voltar para casa. Não foi fácil. Ele teve de enfrentar um ciclope queijeiro e antropófago, um bando de sereias psicopatas e uma bruxa que, só de implicância, queria transforma-lo num porco. Sem falar, que foi obrigado a ser amante de uma ninfa por sete longos anos.



            Sempre lembro de Ulisses quando tento fazer um programa cultural. No cinema preciso enfrentar o cheiro de pipoca com manteiga. Em concertos as pessoas que falam em voz alta. No teatro a peça, muitas vezes tediosa. E em todos os lugares tenho que enfrentar os flanelinhas. Os flanelinhas são muito piores que os ciclopes queijeiros e antropófagos.



            Em seus poemas Homero repete 873 vezes que Ulisses tinha mil estratagemas para enfrentar seus obstáculos. Eu tenho apenas um penso nos bons tempos de outrora. Me imagino caminhando pelas cidades que admiro, passeando pelos períodos mais gloriosos da humanidade. Como a magistral Roma Antiga. É para lá que eu vou quando o cheiro de pipoca com manteiga tenta dominar minha alma ou quando alguém começa a falar no celular no meio da execução musical.




            Também costumo dá uma passada na Londres do século 18, com os teatros cheios. Com as pessoas que não gostavam das peças e jogavam laranjas nos atores. E quando volto, percebo que o cinema e o teatro hoje são mais toleráveis, chego mesmo a achar que estou num lugar civilizado.