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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

CARMEN MIRANDA E SUA BAIANA


            A década de 1930, assistiu no Brasil a construção de uma nova identidade nacional, onde elementos das camadas populares foram incorporados a ela. A construção dessa identidade tinha como agente o Estado e diversos elementos sociais. Carmen Miranda foi o maior ídolo popular da época e a cantora mais famosa daqueles tempos, chegando a representar o Brasil no exterior.



            O desenvolvimento do rádio como novo meio de comunicação foi fundamental na construção dessa nova identidade. Antes de ser a baiana, sua imagem pública suas canções traziam o modelo de uma mulher bem sucedida, batalhadora, bela, sedutora. Na música as Cantoras do Rádio, essas mulheres eram as matriarcas que uniam o país de norte a sul.



            Carmen em suas canções popularizava a nação e vivenciava as narrativas de suas canções. Resumia a imagem que se queria da capital brasileira: Rio lindo sonho de fadas. Noites sempre estreladas e praias azuis. Rainha branca do samba, em suas canções a natureza era personificada bem como as cidades e as grandes massas populares.



            A baiana foi sua marca mais forte, Em 1939, num momento fortemente influenciado pela aversão estatal à figura do malandro, foi gravada “O que é que a baiana tem”. É um samba típico baiano de Dorival Caymmi, que, além de compositor, também a ajudou a montar o figurino de baiana e participou da gravação da música para o filme “Banana da Terra”.


CM: O que é que a baiana tem?
Coro: O que é que a baiana tem?
CM: Tem torso de seda, tem (tem)
Tem brinco de ouro, tem (tem)
Corrente de ouro tem (tem)
Tem pano da Costa, tem (tem)
Tem bata rendada, tem (tem)
Pulseira de ouro tem (tem)
Tem saia engomada, tem (tem)
Tem sandália enfeitada, tem (tem)
E tem graça como ninguém
Coro: O que é que a baiana tem?
CM: Como ela requebra bem
(...)
Coro: O que é que a baiana tem?
CM: Um rosário de ouro
Uma bolota assim
Ai, quem não tem balangandãs
Não vai no Bonfim
Oi, quem não tem balangandãs
Não vai no Bonfim.



            A cantora mais famosa do Brasil, identificada com o Rio de Janeiro, nessa música passava a se apresentar vestida com os trajes típicos das negras da Bahia. Na verdade, a imagem de baiana construída por Carmen não foi uma cópia fiel das baianas que vendiam comidas em Salvador. Ela selecionou alguns elementos dos trajes dessas baianas e acrescentou outros. Foi algo muito chocante para a época: uma cantora que sempre havia se vestido dentro das tendências da moda urbana do Rio de Janeiro, nesse momento construiu um figurino totalmente distinto. Mais impressionante ainda foi o resultado disso.




            Carmen teve um claro feeling para se tornar “mais brasileira”, ou seja, mais aceita pelo imaginário nacional, a figura da baiana. A baiana, como o próprio nome diz, não deixou de ser uma figura regional, mas as alterações feitas pela cantora deram a ela a possibilidade de, além disso, também ser nacional. Seu papel ultrapassava a bela voz e o requebrado e ajudavam a consolidar a imagem cultural que temos do Brasil.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

ELEMENTOS DA CULTURA BRASILEIRA



Existem inúmeras definições sobre o que seja cultura, ou o que torna esse termo como algo próximo de internacionalização, qual o seu caráter universal? Particular? Ou nacional? Muitos defenderam a cultura européia dizendo que só ela tinha uma caráter de universalidade, já que ela valia para todos os homens e mulheres do mundo. Uma coisa não pode deixar de ser dita, a luta por direitos humanos e combate aos preconceitos, atingiram no ocidente um nível mais alto do que em outras culturas.



Essa tese apresenta alguns problemas. A modernidade que é outro nome do ocidente, foi um triunfo cruel. Esmagou culturas ameríndias, africanas e asiáticas, que poucos meios tinham para se defender. Foi uma chacina física e espiritual. Mesmo os valores iluministas, os mais universais rasgam a possibilidade de outros valores. Considero que é bom não usar o termo globalização cultural, já que globalização está relacionada a mercados. E daí pensei, com base em textos sobre o assunto e pesquisas acadêmicas, quais os elementos que internacionalizam a cultura brasileira? Listei alguns que passam longe de ser a pretensão da verdade, mas apenas um indicativo desta.



Machado de Assis- os americanos e parte dos ingleses acharam que talvez fosse mais fácil classifica-lo entre os pós-modernistas, isso mostra, o quanto que Dom Casmurro, continua mais moderno do que os próprios pós modernos, a seu respeito os críticos internacionais costumam citar uma certa ironia epicurista. Machado abre inúmeras possibilidades e interpretações e mostra que sua pátria era sobretudo, sua língua.



Gilberto Freire- foi considerado gênio da sociologia, só ele foi capaz de escrever sobre história como se estivesse produzindo um romance libertino, Casa Grande e Senzala é um clássico da pornografia, com ele, o mundo nunca conseguiu resistir a descrição minuciosa de pecado.



Carmen Miranda- acho que é mal compreendida pelos estrangeiros, que a veem como uma cantora com um toque de folclórico, e não conseguem compreender toda sua grandeza vocálica. Carmen ainda é limitada as suas frutas e seus trejeitos. Por mais que tenha encantado a América, ela é uma figura mais sexy do que supunham e bem mais irredutível do que gostariam. Para nós e para eles ela é um parâmetro essencial que forma uma cultura absolutamente própria.



Brasília- pouco importa que seja uma cidade sem esquinas, ou que continue tão discutia, Brasília mostrou ao mundo que ainda é possível existir homens capazes de construir uma cidade. Sua modernidade e as curvas de Niemayer são imbatíveis.



Tom Jobim- muito mais do que música, criou um estilo imbatível que se mantém, é considerado cool de Frank Sinatra a David Lynch. Sua obra é comparada a Guimarães Rosa. Ninguém pode esquecer ao ouvir suas músicas das praias do sul do Rio de Janeiro, de Parati, do perfume da chuva, da cachaça e da mulher brasileira.



Poltrona Mole- numa variação de estética da forma, Sergio Rodrigues, parece ter criado com sua poltrona uma espécie de estética da saciedade. Na qual, a madeira brasileira era reafirmada com um orgulho que beirava a arrogância, com toda a sua glória ocre, torneada e macia. Os italianos, dados a volúpia adoraram, dizem que quem senta jamais esquece.



Cinema Novo- conseguiu superar a crítica do Cathiers du Cinéma. Glauber Rocha, Rio 40 graus e Vidas Secas, vão sobreviver a qualquer crítica e mesmo ao cinema.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

ZÉ CARIOCA LEVA DONALD A BAHIA





            Algumas máximas que constroem a ideia de Brasil, de seus hábitos, costumes e características, foram construídas socialmente, um dos responsáveis por essa construção foram os filmes, em especial o filme Você já foi a Bahia? De Walt Disney de 1944 que trazia o icônico personagem Zé Carioca, criado quando Disney fez uma turnê pela américa latina como resultado do esforço estadunidense, para reunir aliados durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).


            A viagem foi realizada em 1941 e tinha como pretexto, demarcar a solidariedade entre as Américas, conhecer as músicas, danças e talvez um companheiro para os personagens Mickey e Pato Donald. Na verdade Disney tinha interesse em divulgar sua própria imagem e seus estúdios em outros locais do mundo. Contribuindo assim, para a divulgação do seu trabalho e de suas ideias. Zé Carioca foi criado por Walt Disney, no Rio de Janeiro no Copacabana Palace.


            O filme inicia-se no aniversário do Pato Donald e ele recebe uma caixa de presentes dizendo ser dos seus amigos da América Latina, agradecendo sua visita. Na caixa tem um projetor de cinema que mostra aves raras da região amazônica brasileira, depois dessa apresentação a caixa começa a vibrar e do livro sai o Zé Carioca tocando e sambando e perguntando ao Pato Donald Você já foi há Bahia? O interessante é que a apresentação da Bahia se dá de forma precipitada anunciando que tem vatapá, caruru e mungunzá, se você gosta de samba então vamos lá. Os dois entram num trem e sob o som de uma música contagiante chegam a Bahia.


            A cena mais irresistível é quando uma jovem baiana, protagonizada por Aurora Miranda, já que na época, Carmen Miranda estava contratada pela FOX, canta e encanta, interpretando uma vendedora de quindins, cantando a música de Ari Barroso, Os Quindins de Ya Ya. Donald se apaixona pela baiana, ganha um beijo dela e todos entram no samba. Nesse mundo colorido e fantástico, não tem negros nem pobreza, tudo é exótico, mágico e vibrante.


            Após a viagem a Bahia, Donald e Zé Carioca vão ao México e lá encontram o Galo Panchito, que mostra as belezas e a diversidade natural de sua terra. Esse foi o primeiro filme da Disney em que humanos e desenhos. O personagem mais caricato e que contribui com a construção da ideia do malandro brasileiro é o Zé Carioca, começando pela sua indumentária que é: paletó, gravata, borboleta, chapéu panamá, charuto e guarda chuva. É o malandro tipo exportação, e o primeiro da novelística brasileira, que conduz o estrangeiro numa viagem fantasiosa para uma terra imaginária, onde será centrada as bases para a influência cultural e política dos EUA na América Latina.


            Um filme que vale a pena ser visto e discutido, seja pela magistral trilha sonora, pela impecável atuação de Aurora Miranda, pelas cores que pintaram o Brasil, por um Pato Donald que se mostrava adorável. Nunca me diverti tanto com uma animação da Disney a combinação animação com live action tem qualidade superior se considerarmos que estamos em 1944. Clássico atemporal, que supera as histórias ideológicas criadas em torno da obra.
           
            

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

IMPRESSÕES DO CARNAVAL ANTIGO EM VÍDEOS DO YOU TUBE



            Ontem vendo na televisão, o desfile das escolas de samba carioca, vi que vivemos em tempos de alegria, plastificada, onde cada um deseja se mostrar e o ideal é ver e ser visto. Revi uns vídeos do You tube e tirei algumas impressões da festa popular. Primeiro: Qual a origem do carnaval brasileiro? A festa é descendente do entrudo português, uma festa pagã europeia que chegou ao país com os colonizadores, era realizada entre famílias amigas e pessoas conhecidas, só ganhando as ruas mais tarde. O entrudo acontecia num período anterior a quaresma e tinha o significado de liberdade, esse sentido permanece atualmente. A festa chegou a ser proibida e aos poucos foi incorporando elementos como confetes, serpentinas e limões de cheiro, cheios de água perfumada.


            O entrudo foi influenciado por festas carnavalescas da França e da Itália onde se usavam máscaras e fantasias. Personagens como: a colombina, o pierrô e o rei momo foram incorporados ao carnaval brasileiro, embora sejam de origem européia.


            No Brasil no final do século XIX começaram a aparecer os blocos carnavalescos, cordões e os famosos corsos. Em 1890 Chiquinha Gonzaga compôs a primeira marcha especialmente carnavalesca, o Abre Alas, para o bloco rosas de ouro no Rio de Janeiro. O crescimento do carnaval se deve em grande parte, as marchinhas carnavalescas, músicas como Taí na voz da cantora Carmen Miranda, se espalharam pelo país e se incorporaram a iconografia nacional.


            O corso foi a grande sensação do carnaval carioca no Rio de Janeiro no início do século XX, tratava-se de uma tentativa de reproduzir os carnavais mais sofisticados do fim do século XIX na Europa, como as batalhas de flores em Nice no sul da França. No Brasil, eram desfiles de carruagens, depois carros abertos, onde as pessoas se encontravam e lançavam entre si confetes, serpentinas e lança perfume. O corso acontecia na zona sul entre pessoas mais abastadas que possuíam carros, ou tinham dinheiro para alugar.


            Vejo que nos desfiles das escolas de samba as fantasias perdiam em cores para as de hoje, mas ganhava em samba e quem desfilava eram aqueles que moravam perto das escolas. Nos anos 1920 e 1930, de acordo com as imagens, tenho a impressão que o carnaval  tinha um toque de inocência, seja nas crianças nos bailes infantis, as fantasias dos blocos ou a picardia brasileira na letra das famosas marchinhas. E assim se brincava o carnaval, sassarindo e levando a vida num arame.