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sábado, 4 de janeiro de 2014

LAGOSTA À THERMIDOR: UM PRATO SAUDOSISTA



            Indiscutivelmente A Lagosta à Thermidor tem tudo de bom. Não só apresenta um dos ingredientes mais sofisticados de qualquer despensa, mas o combina com um dos mais ricos: queijo, creme de leite, vinho e conhaque. Este prato já ficaria delicioso se fosse servido numa simples travessa branca, mas naquela casca magnífica, é um espetáculo para os olhos, nariz e pupilas gustativas. O calor daquela armadura avermelhada adicionado ao aroma da praia, assim como chega a sua mesa, é o paraíso! E ainda tem o melhor nome: Thermidor.



            Os revolucionários franceses rebatizaram os meses com nomes que tinha a ver com o clima! Termidor fazia referência ao calor do verão, e ficou famoso por um dos últimos acontecimentos violentos da Revolução, quando Robespierre foi denunciado, preso e decapitado.



            O prato foi criado em 1894, quando o acontecimento histórico mencionado virou peça de teatro em Paris, o restaurante que mais cresceu foi o Chez Marie cuja placa tinha Hoje Lagosta Thermidor. A peça teatral não conheceu sucesso, o prato então, tornou-se célebre, sendo um sucesso instantâneo desde a sua criação. Chefes de toda Paris incluíram essa pequena joia em seu arsenal culinário e a levaram com eles conforme viajavam pelo mundo.



            Na mesma época, com a França vivendo sua Belle Époque, muitos visitantes vinham experimentar os vinhos finos e a comida, e os procuravam nos restaurantes quando voltava para casa. Nos Estados Unidos tornou-se popular quando Julia Child publicou uma receita por volta de 1960. O que me impressiona é o poder que este nome tem ainda hoje. Ver Lagosta à Thermidor no cardápio é um sinal de noite especial.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

O SURREALISMO DE BUÑUEL EM UM CÃO ANDALUZ



Conhecia Um Cão Andaluz (1929) de Luiz Buñuel da maioria dos manuais especializados em cinema, além da associação do nome de Salvador Dali. Partindo de uma linguagem vanguardista de superação dos moldes clássicos da arte, o filme cria uma realidade não tangível aquela que engloba o mundo exterior e interior, sintetizando todos os aspectos da existência humana. O filme não se faz de imagens fantásticas nem de cenários artificiais, o trabalho das imagens é feito com base na recriação da realidade absoluta.



O cinema surrealista de Um Cão Andaluz trabalha bem a ideia de aproximação de imagens aparentemente inconciliáveis, funda-se imagens de objetos cuja significância aparentemente não se assemelham como os pelos da axila de uma mulher e um ouriço, porém relacionam-se pela forma que se apresentam como um formigueiro saindo da mão de um homem. Talvez tente passar a ideia de que a multidão curiosa é como um formigueiro na rotina das ruas.



O filme mostra também fatos irrealizáveis na vida cotidiana: a mulher que tem o olho cortado, aparece oito anos depois, sem nenhuma marca; o ciclista que havia se acidentado e desaparecido aparece depois na casa da mulher; isso mostra que o cinema surrealista, ultrapassa a linguagem tangível. Uma outra noção que é ultrapassada é a de espaço como a mulher que sai direto do cômodo de sua casa para uma praia. Para mim a cena que mais carrega nas tintas do simbolismo e da metáfora, é a do homem puxando arreios presos a dois padres e dois pianos de calda cada um com um jumento morto em cima após acariciar os seios da mulher, o que lembra a culpa sentida pelo fato.



Mas a grande sacada do filme é tratar da reprodução da lógica dos sonhos e do funcionamento da mente humana, não há necessidade de mensuração de tempo e de espaço. O que importa não é o ambiente onde a ação se constitui, mas a ação em si. Acho que o filme trabalha com a ideia de um espectador que deseja uma linearidade, aquele espectador acostumado ao cinema tradicional, com um nexo causal e lógico entre as cenas.


Como o sonho o filme nega essa linearidade, pois para a proposta surrealista que Buñuel e Dali apresentam a arte que se deixa seduzir aos apelos da clareza, acaba por subestimar a inteligência do espectador. Buñuel quando lançou o filme esperava a plateia com um balde cheio de pedras, caso o filme fosse mal recebido, e disse que não aceitaria nenhuma imagem que pudesse se prestar a uma explicação racional, a regra era subverter, por isso que acredito ser o tipo de filme que é preciso ver, para se tirar conclusões particulares sobre o que é apresentado.