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sábado, 3 de maio de 2014

MINHA COZINHA DE ORIGEM

Carne de Sol com queijo coalho.

            Esses dias fiz uma viagem gastronômica as minhas raízes nordestinas, sertanejas, maternais. Em especial ao carneiro guisado à moda da casa como se fazia na minha infância, a galinha que se criava no local e o cuscuz temperado com bastante coentro. Pensar esses alimentos me remete a geografia do lugar, clima, vegetação, relevo. Os costumes alimentares do meu povo demonstra os importantes fatos históricos que ficaram impregnados nas suas memórias e nas suas mesas de resistência aos tempos de escassez.


Buxada de carneiro. 

            Acho que a cozinha que sou originária é uma constante reinvenção dos significados culturais alimentares. Guardo hábitos na memória, ingredientes da terra, forma de elaboração dos pratos, condimentos que lhe dão sabor. Tenho impregnado em minhas imagens mãos femininas que se responsabilizavam pelo preparo dos alimentos.


cuscuz sertanejo. 

            A cozinha é para mim a exposição de todo um passado, das origens, porque ela comunica, identifica é memória. Gilberto Freyre entendia que o ato de comer, é um ato global porque se come com o corpo inteiro. Inicialmente come-se com os olhos, come-se com o olfato; come-se com o tato, come-se finalmente com a boca, com o prazer de um sentimento tão aguçado que já é sentimento. Simbolicamente, comendo-se a cultura, comendo-se a história, a civilização e, de certa maneira, come-se também o homem, uma metáfora antropofágica, pois come-se os valores e os significados plenos do que é oferecido em alimento e diria ainda, come-se a si próprio, como em contato quase litúrgico e profundo da intimidade do eu individual com o seu coletivo, a própria cultura.


Galinha Caipira. 

            A busca de rastros de minha identidade gastronômica me leva a uma cozinha regional, onde não se evidencia um prato específico como artífice do seu modo de ser, mas, deixa evidente o emprego de ingredientes básicos utilizados na sua preparação, que lhe dão o perfume e o sabor característicos. Para mim é um cozinha de resistência onde se transformava escassez em fartura.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A TRADUÇÃO DO BRASIL EM GILBERTO FREYRE


            Casa Grande e Senzala foi o livro inaugural de minha vida acadêmica, assim como a discussão em torno da ideia de brasilidade, essa ideia sempre esteve pautada por uma relação de ufanismo e exotismo. Com as conquistas da Semana de Arte Moderna de 1922, as tendências do movimento caminham para a constituição de uma arte nacional e nacionalista. As imagens icônicas brasileiras são em geral caracterizadas pela presença de personagens negros e/ou mestiços, fortes e belos, que são favorecidos pela liberdade de uma terra tropical, paradisíaca.


Esses estereótipos continuam uma representação constante em manifestações artísticas que tratam de uma identidade brasileira, principalmente através da literatura, da música e do cinema.  Falar de Gilberto Freyre é tocar em assunto de muita polêmica, pelas paixões, sejam positivas ou negativas, que sua obra de escritor e sociólogo pode levantar. Seu primeiro e mais importante livro, Casa Grande e Senzala – a História da Sociedade Patriarcal no Brasil (1932), foi publicado no mesmo ano em que Adolf Hitler foi nomeado Chanceler do Reich alemão; nesta época, as teorias de eugenia dominavam a Europa e o mundo. Casa Grande e Senzala veio na contramão do pensamento racista em voga na época. Em sua obra, Freyre defendia o futuro do Brasil enquanto nação mestiça, fruto da integração de brancos, negros e índios.


Segundo ele, a riqueza da nossa cultura se devia à colonização portuguesa, constituída por um povo que se adaptava facilmente ao meio e que não tinha preconceito quanto à miscigenação. O livro ainda causa um certo frisson por discutir a educação, os hábitos, os costumes, a alimentação, a religião, a língua portuguesa falada no Brasil e, principalmente, a sexualidade da família patriarcal.


Para Freyre, “todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não na alma e no corpo [...] sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena ou do negro” (CGS 283). O Brasil seria um laboratório racial, onde poder-se-ia facilmente contrastar a introversão do índio com a extroversão do negro. A população de regiões em que a influência do sangue negro era maior seria mais alegre do que aquela de regiões com maior influência indígena. Como exemplo, Freyre cita a Bahia onde “tem-se a impressão de que todo dia é dia de festa. Festa de igreja brasileira com folha de canela, bolo, foguete, namoro” (CGS 289).


Pela importância enquanto pensador brasileiro, seus trabalhos mais importantes foram traduzidos e publicados em 14 países. Desde Casa Grande e Senzala, Freyre tem sido tema de artigos, livros, palestras, teses e dissertações. Pela sua produção e influência no Brasil e no exterior, é inegável a importância do Gilberto Freyre enquanto produtor de uma imagem do Brasil, de um conceito de brasilidade e de uma identidade brasileira.




quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

ELEMENTOS DA CULTURA BRASILEIRA



Existem inúmeras definições sobre o que seja cultura, ou o que torna esse termo como algo próximo de internacionalização, qual o seu caráter universal? Particular? Ou nacional? Muitos defenderam a cultura européia dizendo que só ela tinha uma caráter de universalidade, já que ela valia para todos os homens e mulheres do mundo. Uma coisa não pode deixar de ser dita, a luta por direitos humanos e combate aos preconceitos, atingiram no ocidente um nível mais alto do que em outras culturas.



Essa tese apresenta alguns problemas. A modernidade que é outro nome do ocidente, foi um triunfo cruel. Esmagou culturas ameríndias, africanas e asiáticas, que poucos meios tinham para se defender. Foi uma chacina física e espiritual. Mesmo os valores iluministas, os mais universais rasgam a possibilidade de outros valores. Considero que é bom não usar o termo globalização cultural, já que globalização está relacionada a mercados. E daí pensei, com base em textos sobre o assunto e pesquisas acadêmicas, quais os elementos que internacionalizam a cultura brasileira? Listei alguns que passam longe de ser a pretensão da verdade, mas apenas um indicativo desta.



Machado de Assis- os americanos e parte dos ingleses acharam que talvez fosse mais fácil classifica-lo entre os pós-modernistas, isso mostra, o quanto que Dom Casmurro, continua mais moderno do que os próprios pós modernos, a seu respeito os críticos internacionais costumam citar uma certa ironia epicurista. Machado abre inúmeras possibilidades e interpretações e mostra que sua pátria era sobretudo, sua língua.



Gilberto Freire- foi considerado gênio da sociologia, só ele foi capaz de escrever sobre história como se estivesse produzindo um romance libertino, Casa Grande e Senzala é um clássico da pornografia, com ele, o mundo nunca conseguiu resistir a descrição minuciosa de pecado.



Carmen Miranda- acho que é mal compreendida pelos estrangeiros, que a veem como uma cantora com um toque de folclórico, e não conseguem compreender toda sua grandeza vocálica. Carmen ainda é limitada as suas frutas e seus trejeitos. Por mais que tenha encantado a América, ela é uma figura mais sexy do que supunham e bem mais irredutível do que gostariam. Para nós e para eles ela é um parâmetro essencial que forma uma cultura absolutamente própria.



Brasília- pouco importa que seja uma cidade sem esquinas, ou que continue tão discutia, Brasília mostrou ao mundo que ainda é possível existir homens capazes de construir uma cidade. Sua modernidade e as curvas de Niemayer são imbatíveis.



Tom Jobim- muito mais do que música, criou um estilo imbatível que se mantém, é considerado cool de Frank Sinatra a David Lynch. Sua obra é comparada a Guimarães Rosa. Ninguém pode esquecer ao ouvir suas músicas das praias do sul do Rio de Janeiro, de Parati, do perfume da chuva, da cachaça e da mulher brasileira.



Poltrona Mole- numa variação de estética da forma, Sergio Rodrigues, parece ter criado com sua poltrona uma espécie de estética da saciedade. Na qual, a madeira brasileira era reafirmada com um orgulho que beirava a arrogância, com toda a sua glória ocre, torneada e macia. Os italianos, dados a volúpia adoraram, dizem que quem senta jamais esquece.



Cinema Novo- conseguiu superar a crítica do Cathiers du Cinéma. Glauber Rocha, Rio 40 graus e Vidas Secas, vão sobreviver a qualquer crítica e mesmo ao cinema.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

O BRASIL NÃO SUPEROU A CASA GRANDE E SENZALA




            Em uma das férias da faculdade li Casa Grande e Senzala de Gilberto Freyre e minha professora orientadora me estimulou a apresentar um trabalho sobre o cotidiano de senhoras, sinhazinhas e escravas descritas na magistral obra, digo sem nenhuma dúvida que esse primeiro trabalho acadêmico, foi responsável por influenciar minha visão sobre o servilismo à brasileira. Na segunda metade de janeiro desse ano a OIT (Organização Mundial do Trabalho), divulgou uma pesquisa que aponta o Brasil como o país com o maior número de serviçais, (empregados domésticos), pessoas que cuidam de outras e realizam trabalhos que vão de passear com o cachorro, estacionar o carro ou fazer compras em shoppings centers.


            Os números mostram que de cada 6 mulheres que trabalham no país 1 é doméstica, e que a grande maioria é de mulheres entre 25 e 45 anos, pretas ou pardas, além de registros de maus tratos físicos e psicológicos. Isso mostra os resquícios perversos de nossa escravidão, e da cultura construída no Brasil de que trabalho braçal é coisa de preto. Sergio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil, atribui essa tendência da exploração do trabalho braçal do outro, a nossa colonização portuguesa, onde mostra os portugueses como aventureiros, em busca de resultados fáceis, diferentemente dos ingleses que não teriam dificuldades em realizar esse tipo de trabalho.


            Essa cultura de se cercar de serviçais para realizar as tarefas mais comezinhas, só se sustenta pela colossal desigualdade que vive o Brasil, ainda não superada, embora amenizada pelos programas de transferência de renda do Governo Federal. Fico pensando qual o sentido de se ter um cachorro, e pagar alguém para andar com ele, ou mesmo cuidar de coisas pessoais, empurrar o carrinho de supermercado ou cuidar do filho em tempo integral, pois é no Brasil funciona assim, trabalho braçal é coisa a ser realizada por essa imensa casta de serviçais.


            Acredito que os mais ricos do país deve aprender a ver o outros como iguais, e romper a barreira de andar com a babá imaculadamente vestida de branco empurrando o carrinho do bebe e esperando de pé em restaurantes e shoppings centers enquanto os patrões fazem refeição. A ideia é superar esses hábitos da cultura brasileira do exibicionismo mimado e da vulgaridade melindrada e ver que cada um pode cuidar de seus próprios prazeres, caprichos, desejos e deveres. O limite para o trabalho do outro é a dignidade humana.