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sexta-feira, 13 de julho de 2012

PORQUE GOSTO DO NOEL ROSA




Não sou contemporânea nas minhas preferências em relação à música e a outros temas relacionados à arte. Da música brasileira tenho um interesse especial pela música dos anos 1930, que para mim foi à geração responsável definitivamente pela introdução do Modernismo na nossa música rompendo com músicas de estilo parnasiano que existiam anteriormente. E a obra de Noel é uma prova disso ao fazer um novo estilo, construindo letras críticas, nacionalistas e irônicas. Ele vai abraçar o samba e executa-lo entre os anos 1929 até perto de sua morte em 1937.



Como um arguto observador da cidade onde morou, analisa as máximas da civilização e as ironiza. Como um típico cronista traz para o texto a simplicidade e brevidade, o cotidiano dos cariocas seus hábitos e problemas. Trata a cidade do Rio de Janeiro de forma íntima e familiar.  Na música conversa de botequim, percebe-se uma crônica perfeita de um bar e alguns costumes dos anos 1930 e 1920.

Seu garçom faça o favor de me trazer depressa
Uma boa média que não seja requentada
Um pão bem quente com manteiga à beça
Um guardanapo e um copo d'água bem gelada
Feche a porta da direita com muito cuidado
Que não estou disposto a ficar exposto ao sol
Vá perguntar ao seu freguês do lado
Qual foi o resultado do futebol.




                O somatório de quase 300 músicas onde pontos se interligam e dão unidade ao conjunto constituem uma obra de grande envergadura. O samba ocupa lugar central no seu trabalho, onde ele usou toda a sua bossa, ajudando a dar formato quando define primeira, segunda, terceira parte e refrão.  Como em Com que Roupa eu vou: em que aparece o refrão.

Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou
Pro samba que você me convidou?





            A obra de Noel se situa dentro de uma visão antropocêntrica fazendo emergir o discurso do outro na sua produção. Outra questão importante é o forte sentido nacionalista do seu trabalho, em que empreendia críticas ao estrangeirismo como podemos ver na música, Tarzan: o filho do alfaiate. Quando o filme do Tarzan chegou ao cinema os rapazes procuraram as academias em busca de músculos e o samba é uma crítica a isso.

Quem foi que disse que eu era forte?
Nunca pratiquei esporte, nem conheço futebol...
O meu parceiro sempre foi o travesseiro
E eu passo o ano inteiro sem ver um raio de sol
A minha força bruta reside
Em um clássico cabide, já cansado de sofrer
Minha armadura é de casimira dura
Que me dá musculatura, mas que pesa e faz doer.





             Outra coisa que gosto, e me identifico, é o romantismo de Noel, porque, este não apresenta grandes sofrimentos, sentimentalismos, ornamentações nem choros, a sua sensação de mal estar do mundo é fluídica e poética como nesse trecho da antológica o Último Desejo:

Nosso amor que eu não esqueço
E que teve o seu começo
Numa festa de São João
Morre hoje sem foguete
Sem retrato e sem bilhete
Sem luar, sem violão (..)
            Noel é um cronista diferente que vem construir a história com o que sobrou do dia a dia. Produziu músicas de valor considerável e viveu delas, projetando seu nome para o mercado através do rádio. A música se constitui como porta voz, dos novos tempos, desse novo mundo imediatista que situa novos valores e perspectivas. Seus versos eternizam coisas e personagens do dia a dia. Como um cineasta ele vai juntando os cacos da “vida como ela é” como disse Nelson Rodrigues.


            O mais interessante de tudo isso é que a obra de Noel serve de paradigma para à música brasileira, vai atravessando décadas e influenciado compositores. Inegavelmente ele foi responsável por transformar o samba em gênero musical de primeira grandeza. Tratou os cariocas de forma tão íntima que foi capaz de contribuir substancialmente para a criação da imagem que temos deles no nosso imaginário coletivo.