Mostrando postagens com marcador Nelson Rodrigues. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Nelson Rodrigues. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

AS PERSONAGENS FEMININAS MAIS TRANSGRESSORAS DO TEATRO


            Acredito que a rebeldia tem um conteúdo dramático fundamental porque possibilita que um personagem supere seus limites e lute contra forças superiores estabelecidas. O destino, o poder, as normas do seu tempo, a própria morte. Selecionei quatro personagens que considero símbolos da contestação.


Antígona (Sófocles, 442 a.C.)- encarna o mito da rebeldia da pólis grega. Para ela não há escolha possível não há escolha possível: sua ação (sepultar o corpo do irmão contra a ordem do rei) é justa e necessária. Não admite submeter a sua ética a leis injustas, resta a ela se rebelar em sacrifício.


Julieta (Shakespeare, 1597)- é capaz das maiores transgressões pela paixão. Contraria os pais e recusa-se a casar com seu primo Teobaldo. Apesar da guerra ente as duas famílias une-se a Romeu em segredo. Mesmo com o fim trágico não deixou de viver sua paixão.



Santa Joana dos Matadouros (Bertolt Brecht, 1932)- Joana é uma líder proletária de uma revolta de trabalhadores dos matadouros, mas tem uma fragilidade no fundo acredita que todo homem é bom. Seduzida pelo patrão acredita que pode converte-lo, não consegue levar uma mensagem às outras fábricas. Por sua culpa a greve geral naufraga. Joana a partir de sua contradição, toma consciência do seu erro na hora da morte.



Geni (Toda Nudez Será Castigada, Nelson Rodrigues, 1965)- traz em si os dois arquétipos da mulher rodriguiana: a santa e a prostituta. Sua rebeldia está na síntese destes opostos. Geni é a prostituta que se apaixona por Herculano, mas não aceita ser amante dele  exigindo casamento.

domingo, 27 de outubro de 2013

A VIDA COMO ELA É DE NELSON RODRIGUES





            Conheci Nelson Rodrigues através da série televisiva, que passava no Fantástico da TV Globo, depois tive a oportunidade de ler o livro. A Vida como ela é. A obra foi produzida no jornal Última Hora de Samuel Wainer de 1951 a 1961. São histórias que se tornaram populares, pela linguagem objetiva, fácil acesso e gírias faladas na época. Considero as histórias como atemporais, pois causam familiaridade e estranheza, característica das transgressões morais rodriguianas. Rodrigues soube combinar o lado obscuro da vida, o lado trágico da existência, com o cômico de forma extraordinária, provocando impacto nas massas.


            O que me fascina em sua obra é o que sua arte provoca, um estranhamento que vai do asco a compaixão. A Vida como Ela É reflete diretamente a atualidade de seu tempo, pois reflete uma sociedade com desgaste e com novos paradigmas para as relações familiares e amorosas, na época foi um choque, mas revela as mazelas da sociedade contemporânea, daí resulta seu caráter atemporal.


            Acho que rotular a obra rodriguiana de somente transgressora ou machista é ser reducionista, uma vez que ele desmonta clichês e desnuda as máscaras sociais. A obra retrata um período conhecido como anos dourados, aqueles imediatamente posteriores a II Guerra Mundial, que trouxeram progresso científico, tecnológico, econômico e cultural. A Capital Federal era o Rio de Janeiro, cenário das narrativas de Nelson Rodrigues, contribuíndo para a construção de um imaginário do povo carioca.


            Vejo como ele foi ousado para os anos 1950 do século XX, seus temas giravam em torno do amor, sexo e adultério. Questionado sobre o porquê de sua obra tratar sobre sexo, Nelson Rodrigues respondeu ironicamente afirmando: “[...] ‘isso’ é amor. Há nesta pergunta um fundo de indignação que eu não devia compreender e que talvez não compreenda mesmo. Afinal de contas, por que o assunto amoroso produz esta náusea incoercível?” (RODRIGUES, 1949: 20). A vida como ela é ... chegou ao final, em 1961, e, segundo Ruy Castro (1992), Nelson Rodrigues criou cerca de duas mil histórias.

Em tempos de permissividade vale a pena reler ou conhecer Nelson Rodrigues que teve a ousadia de enfrentar uma sociedade pudica, construída em comportamentos sócio moralizantes. Era uma sociedade em que poucos tinham carros e se andavam de bondes e ônibus, casais viviam com primos sobre o mesmo teto. Uma cidade que não tinha móteis e os encontros aconteciam em apartamentos emprestados por amigos, e a ameaça do pecado poderia se tornar uma obsessão. A vida sexual para se realizar exigia o vestido de noiva, a noite de núpcias e a lua de mel, assim era o mundo de Nelson Rodrigues.