Mostrando postagens com marcador Niilismo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Niilismo. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

ENTENDENDO NIETZSCHE



Fico pensando por que Nietzsche vende tanto já que é um filósofo tão erudito e as pessoas compram mesmo que não consigam acompanhar. Quando você se relaciona com o seu pensamento uma coisa que é evidente desde o inicio é a sua crítica a história da filosofia. Nietzsche é um pensador do século XIX, período marcado por uma euforia moderna, que vende a ideia de que no futuro o mundo será melhor. A ciência e o pensamento seriam veículos de transformação social.



Nietzsche estudava os pré-socráticos que fundamentavam seu pensamento no devir que seria a vida como processo de transformação constante, mostrando que tudo muda o tempo inteiro, nada é fixo.  Filho de pastor protestante, ele está inserido numa cultura cristã extremamente forte. Seu pensamento foi extremamente marcado por três elementos: modernidade, pensamento arcaico e cultura cristã.



Gosto do Nietzsche porque ele tira o antropocentrismo do homem e diz que somos vítimas do pensamento que cria um outro mundo para o homem além daquele que ele vive. Ele diferentemente dos pensadores de sua época não discute quem está com a verdade, mas para que e porque dá verdade. Ele diz que a verdade não é produto da curiosidade humana em saber como as coisas são, a verdade, é produto do nosso medo da morte, é o produto de uma necessidade psicológica de duração.



Ele entende que o pensamento cristão é uma forma de niilismo negativo, já que eu nego essa vida, em nome da outra. Na modernidade sob o aporte da ciência, o homem não quer mais morrer, então, a morte de Deus é o que marca a modernidade. Essa morte de Deus é a ideia de que quando a ciência nasce, a religião perde o valor, antes o homem rezava para se livrar das doenças, agora ele vai ao médico. Mesmo que esse homem, ainda acredite que Deus existe, esse é colocado em segundo plano, porque primeiro é o médico.



Nietzsche condenava os idealistas a quem afirmava que tentavam mudar o mundo através de sua filosofia pré-concebida, refugiando-se num mundo que nega a realidade que o cerca, eles não constroem uma filosofia a partir do mundo, que era o que ele pretendia, mas tentam mudar o mundo em que vivem. Vejo isso sendo comum na nossa contemporaneidade, você idealiza o filho, a profissão e a sua própria vida, embora esta nem de longe seja feita do ideal, mas somente daquilo que é possível.



Nietzsche entende que na nossa sociedade o que se estabeleceu foi o poder da fraqueza, já que a força estaria no enfrentamento das próprias contradições inerentes a vida humana. A sua grande sacada e nos fazer pensar a nós mesmos nessa vida exatamente como ela é, sem subterfúgios com dor e prazer, elementos centrais na caminhada da humanidade. 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

NIILISMO E JEITINHO BRASILEIRO





            O niilismo é um movimento filosófico que nos revela a ausência de fundamentos, verdades, critérios absoluto e universal e nos convoca diante de nossa própria liberdade e responsabilidade. Nietzsche descreve o niilismo europeu como sendo o mais estranho de todos os hóspedes em uma passagem dos seus famosos textos Vontade de Poder, pensando nisso, fico pensando: Existe um niilismo especificamente brasileiro?


            Quando Nietzsche fala do niilismo europeu ele assume em sua afirmação o ponto de vista de um migrante, alguém que está junto, mas que é possível olhar de fora. Descrevendo o niilismo europeu como a experiência histórica de esvaziamento de categorias tais como: verdade, propósito, sentido, gerando então uma crise de desorientação e insegurança. Um dos sintomas dessa crise é a atitude de desprezo pelo corpo e os prazeres. Sob essa ótica, não há nada menos niilista do que a cultura brasileira, já que aqui impera o culto ao corpo e a sua saúde aparente. Mas na verdade o hedonismo parece ser uma tendência comum na maioria das sociedades contemporâneas.


            Afinal existirá alguma manifestação específica de niilismo brasileiro? Acho que temos algumas expressões como na separação entre o que é cultura de massa e cultura de elite; a primeira manipulada pela elite, a segunda inacessível as massas. Um outro ponto é a relação ambígua do brasileiro com a natureza, entre a fascinação deslumbrante e a fúria exploratória. E principalmente, a tendência brasileira de preferir não se comprometer, do tipo eu não to fazendo nada.


            A filosofia existencialista costuma distinguir entre a atitude autêntica da atitude inautêntica daquele que delega inconscientemente a responsabilidade de suas opções para os outros. O que os existencialistas não previram foi o chamado jeitinho brasileiro: a escolha intencional da não-escolha, da inautenticidade, do cinismo. Os brasileiros diferente dos europeus que ao que parecem só sabem jogar para ganhar muito ou pouco, assumem uma nova modalidade, mudar as regras do jogo, uma metáfora inusitada presente no carnaval, no futebol e sobretudo na nossa política.


            O Brasil é uma utopia não no sentido de lugar inatingível, mas de um fora de lugar, um lugar não determinado, mas cheio de possibilidades. Em questionários aplicados por estudiosos da área das ciências sociais encontrou-se como resultado que somos o país do jeitinho identificado em três dimensões: a criatividade, a corrupção e a quebra de normas sociais. Ao que parece nossa grande dificuldade está em conseguir separar as relações pessoais das relações que necessariamente exigem impessoalidade e isso não deixa de ser uma forma de niilismo.