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quarta-feira, 9 de julho de 2014

A ESPUMA DOS DIAS COM AUDREY TATOU


A Espuma dos Dias (França 2013) é daquelas surpresas boas provando que é possível a produção de bons filmes num mundo em grande parte mercadológico. O filme baseia-se em importante obra homônima da literatura francesa de Boris Vian escrita no final da década de 1940. Estrelado por Audrey Tatou que dispensa apresentação. Colin (Romain Duris) é um homem rico que não trabalha, passa o tempo envolvido em invenções futurísticas como um piano que produz bebida de acordo com notas musicais, mesas girantes, sapatos que possuem vontade própria e um rato que se comporta como ser humano.


Colin recebe a visita de um amigo (Chick), que costuma gastar todo o seu dinheiro em livros mas, se relaciona com uma mulher. Assim, ele decide fazer o mesmo e conhece Chloe (Audrey Tatou) uma bela e encantadora moça eles se apaixonam e se casam. A felicidade do casal é interrompida quando Chloe se descobre doente de uma doença rara nos pulmões, Colin abandona a seu estilo de vida e passa a trabalhar em atividades difíceis para custear o tratamento de Chloe que não obtém nenhuma melhora.


Desde a primeira cena percebi que estava diante de algo inovador, diferente de tudo que eu tinha costumado ver desde O Cão Andaluz de Buñuel. O filme nos apresenta um mundo ilógico. Pessoas que voam, casam que diminuem, comidas com vontade própria, carros transparentes e em formato de nuvens. Procurei metáforas e sentidos para o que o filme apresenta e senti que assim como a lógica da vida talvez a graça esteja em não ter muito sentido. Mergulhei numa fuga de conceitos e paradigmas pré determinados, nesse sentido o filme já vale muito a pena de ser visto.


Gosto da terminação de Colin em acreditar de forma obstinada que as coisas podem melhorar, se negando as suas incapacidades e acreditando que a mulher amada poderá ficar boa. A fotografia do filme é impecável, no início os cenários são coloridos e fantasiosos, a medida que a história evolui vão se tornando esmaecidos até o ponto do filme ser terminado em preto e branco.



A Espuma dos Dias é daqueles filmes que ou se ama ou se odeia, isso pode ser justificado pelo nível de exageros a que propõem. Para mim faltou alma e uma certa dose de doçura. Em alguns momentos me senti em uma fantástica fábrica de brinquedos. Mas o filme é bom, encantador, inovador. Procura romper nossas visões pré-concebidas. Acho que o casal romântico deveria ter sido mais explorado, mas, mesmo assim gostei, não superou minhas expectativas, mas recomendo.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

O SURREALISMO DE BUÑUEL EM UM CÃO ANDALUZ



Conhecia Um Cão Andaluz (1929) de Luiz Buñuel da maioria dos manuais especializados em cinema, além da associação do nome de Salvador Dali. Partindo de uma linguagem vanguardista de superação dos moldes clássicos da arte, o filme cria uma realidade não tangível aquela que engloba o mundo exterior e interior, sintetizando todos os aspectos da existência humana. O filme não se faz de imagens fantásticas nem de cenários artificiais, o trabalho das imagens é feito com base na recriação da realidade absoluta.



O cinema surrealista de Um Cão Andaluz trabalha bem a ideia de aproximação de imagens aparentemente inconciliáveis, funda-se imagens de objetos cuja significância aparentemente não se assemelham como os pelos da axila de uma mulher e um ouriço, porém relacionam-se pela forma que se apresentam como um formigueiro saindo da mão de um homem. Talvez tente passar a ideia de que a multidão curiosa é como um formigueiro na rotina das ruas.



O filme mostra também fatos irrealizáveis na vida cotidiana: a mulher que tem o olho cortado, aparece oito anos depois, sem nenhuma marca; o ciclista que havia se acidentado e desaparecido aparece depois na casa da mulher; isso mostra que o cinema surrealista, ultrapassa a linguagem tangível. Uma outra noção que é ultrapassada é a de espaço como a mulher que sai direto do cômodo de sua casa para uma praia. Para mim a cena que mais carrega nas tintas do simbolismo e da metáfora, é a do homem puxando arreios presos a dois padres e dois pianos de calda cada um com um jumento morto em cima após acariciar os seios da mulher, o que lembra a culpa sentida pelo fato.



Mas a grande sacada do filme é tratar da reprodução da lógica dos sonhos e do funcionamento da mente humana, não há necessidade de mensuração de tempo e de espaço. O que importa não é o ambiente onde a ação se constitui, mas a ação em si. Acho que o filme trabalha com a ideia de um espectador que deseja uma linearidade, aquele espectador acostumado ao cinema tradicional, com um nexo causal e lógico entre as cenas.


Como o sonho o filme nega essa linearidade, pois para a proposta surrealista que Buñuel e Dali apresentam a arte que se deixa seduzir aos apelos da clareza, acaba por subestimar a inteligência do espectador. Buñuel quando lançou o filme esperava a plateia com um balde cheio de pedras, caso o filme fosse mal recebido, e disse que não aceitaria nenhuma imagem que pudesse se prestar a uma explicação racional, a regra era subverter, por isso que acredito ser o tipo de filme que é preciso ver, para se tirar conclusões particulares sobre o que é apresentado.