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terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

O ARTISTA, O FILME


            Saudosista como sou quando O Artista (2011), foi lançado cai de amores imediatamente torci pelo seus prêmios e revendo o filme esses dias vi que ele é a prova que ainda somos capazes de nos emocionar com uma fantasia silenciosa. O filme se passa entre 1927 e 1933 e conta duas histórias aquela vivida entre Dujardin e Berenice e o amor pelo cinema em si.



            A paixão pelas imagens mostradas no filme transborda pela tela e desperta a função cinéfila de cada um de nós, fazendo com que os espectadores se sintam seduzidos pelo cinema. Há um pouco do cinema de Hollywood nos personagens centrais o astro Valentin é dono de um sorriso à la Rodolfo Valentino e um bigode de Douglas Fairbanks e a aspirante ao estrelado Peppy : os dois caminham em ritmo chapliniano e a evidente referência ao mestre inglês é uma das chaves para o sucesso da produção: um pouco como faz Quentin Tarantino.



            O Artista retorna ao cinema mudo seguindo toda a sua cartilha, às vezes exagerando em algumas das regras, quando então nos faz rir. Da entrada das cartelas de diálogos às cenas panorâmicas tudo no filme nos coloca num improvável túnel do tempo. É impagável, por exemplo, a passagem em que Valentin, estupefato, ouve o barulho dos objetos caindo, os saltos femininos batendo no chão. O som chegou. Nós, na plateia, ouvimos esses ruídos todos, mas, de repente, Valentin move os lábios e, de sua boca, as palavras não saem.




Gosto do filme pelo retorno a pré-história do cinema e a viagem que nos leva ao tempo de certa ingenuidade, em que o cinema era criança. É fascinante descobrir que mesmo diante da tentação do 3D uma fantasia simples e silenciosa ainda pode nos seduzir.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

UM SONHO DE LIBERDADE



            Um Sonho de Liberdade mais do que um filme é uma experiência espiritual, que cria uma expressão tão calorosa em nossos sentimentos que é capaz de nos fazer sentir membros de uma família. O filme flui lentamente seguindo o ritmo calmo e observador de seu narrador. É mais profundo do que a maioria dos filmes e traz como mensagem fundamental a continuidade de uma existência baseada em esperança e amizade.


            A cena de início do filme mostra o condenado, o banqueiro Andy, recebendo prisão perpétua pela morte da esposa e do amante. E o personagem de Morgan Friedman narrando a primeira vez que o viu. Desde a chegada de Andy no ônibus da prisão até o final do filme nos só vemos como os outros o veem. A história é construída de forma diferente nos fazendo questionar se Andy, realmente matou aquelas pessoas? Ou porque ele é tão introspecto. Não é uma história centrada num herói bravo e destemido, que seria o convencional.


            Boa parte do filme envolve muda solidão e reflexão filosófica sobre a existência. O personagem de Morgan Friedman é o condutor espiritual do filme nos o vemos em três audiências de condicional,  depois de vinte, trinta e quarenta anos. Na primeira ele tenta convencer a junta que está reabilitado, na segunda ele finge e na terceira ele rejeita, qualquer forma de liberdade e o interessante é que ao fazer isso ele deixa seu espírito livre.


            O filme foi construído para nos fazer observar a história e não para distrair a plateia. Acho que distração é o que tem de muito pouco nesse filme. Os atores gostam de desempenhar os seus papéis. A história se desenrola de forma ordenada, e o filme reflete a longa passagem das décadas. O personagem de Morgan Friedman reflete e diz: quando eles colocam você na cela, quando aquelas barras de ferro batem violentamente cerrando as portas, então você sabe que é verdade. A velha vida desaparece, nada resta a você além de todo o tempo do mundo para pensar a vida.


            Revendo o filme, eu o admirei mais do que a primeira vez. O apreço por bons filmes, cresce com a familiaridade, assim como acontece com a música. Alguns costumam dizer que a vida é uma prisão, essa prisão pode ser por motivo de escolhas ou por se está doente, sendo assim, somos Red, o personagem de Friedman e o nosso redentor é Andy. O filme é uma obra de arte que trata de uma coisa mais profunda do que ele seja capaz de admitir. 

terça-feira, 11 de junho de 2013

O FABULOSO DESTINO DE AMÉLIE POULAIN





Quem disse que o cinema europeu não pode ser leve, divertido, bonito, instigante se engana ao ver O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, é o tipo de filme que você tem vontade de chamar todos para verem como você de sua mãe ou tia a seu companheiro amoroso. O roteiro é relativamente simples Amélie é uma menina do subúrbio que cresce isolada porque seu pai acredita que ela tem um problema no coração, não frequentando a escola nem convivendo com outras pessoas, a mãe morre durante a sua infância e ela passa a viver sozinha com o pai.


Na maioridade Amélie se muda para Montmarte e vira garçonete do bar Dois Moinhos, um dia no seu apartamento encontra uma caixa de brinquedos de um antigo morador, perdida a 40 anos e decide procura-lo para entregar o que acredita ser um tesouro da vida daquela pessoa, ao entregar os pertences ao dono e perceber o quanto ele se emociona Amélie muda sua visão de mundo, e decide praticar o bem de forma indistinta através de pequenas ações e tornar as pessoas com quem convive mais felizes, até ela própria se descobrir apaixonada e ver que para ter chance de ser feliz também precisa se permitir correr riscos.


O filme é expressivo através dos olhos do personagem somos levados a uma Paris peculiar onde cada recanto tem sua importância, seu valor, os personagens são deliciosamente caricatos, como a hipocondríaca, o vendedor de frutas, a zeladora do prédio e o pintor com os ossos de vidro. As figuras de linguagem como metáforas e metonímias são dignas de aplausos e dão ritmo e charme ao compasso dessa irresistível  comédia romântica.


O olhar expressivo de Audrey Tatou nos hipnotiza e dá a ideia de que o mundo pode ser um lugar melhor para se viver, lembro que vi o filme pela primeira vez a uns quatro anos e tive a sensação de está dentro de um mundo diferente, os elementos colocados no filme são estetizados e harmonizados de modo a passar quase que despercebidos pelo olhar do espectador, a fotografia causa estranhamento e aproximou minha visão de um conto de fadas moderno.


Acredito que o filme é um sucesso pelo seu olhar transcendental do mundo, o olhar de que é sempre possível melhorar, de que ajudar ao outro pode ser uma alternativa, e que a partir dessa ajuda você possa modificar sua própria vida. E no fim o espectador tem uma alternativa sorrir se encantar e mergulhar no conto de fadas moderno da Amélie Poulain que encontra um amor por quem se apaixona a primeira vista e mostra que viver de forma simples e despretensiosa vale muito a pena. 

sexta-feira, 7 de junho de 2013

QUANDO CONHECI GLAUBER ROCHA





Acho que as Ciências Sociais deveriam servir como base para a grande maioria das profissões, possibilitaria uma abertura maior do entendimento do mundo em que o indivíduo está inserido, para mim um dos conceitos mais caros no entendimento desse mundo é o de estranhamento as coisas que não são comuns a meu entendimento. Uma delas é a estética, com suas sensações do belo, das emoções e das técnicas de arte. Quando conheci Glauber Rocha tive essa sensação de estranhamento estético tão forte que chegou a me causar um certo mal estar.


Fui apresentada a ele através de um livro em que o próprio escrevia cartas para pessoas ligadas a sua vida, após isso, não deixei mais de pesquisar, ler ou ver seus filmes sempre embalada pelo furacão de ideias e novo formato que suas obras trazia. A busca por fazer um trabalho que fosse contrário aos padrões importados dos Estados Unidos que não fosse colonizado, como o próprio Glauber diz já traz por se uma mudança considerável na nossa viciada construção cinematográfica.


Sua filmografia é inquieta como sua vida, é forte como sua personalidade, busca uma identificação genuinamente nacional como o Brasil deveria ser. Sempre achei Glauber Rocha, o menino baiano grande demais para o nosso meio artístico viciado na estética comercial, naquilo que é mais fácil de vender e de ser visto, haja vista nossas barreiras educacionais. Fico imaginando toda a efervescência cultural do Cinema Novo em busca de uma linguagem que se aproximasse do povo e vejo Terra em Transe (1967) uma vigorosa alegoria política do populismo, das ilusões das liberdades de esquerda e da mistura das culturas (africana, índia e branca), se coloca até hoje num grau apurado de atualidade.


Essa busca de uma linguagem nacional causa impacto Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) fortemente influenciado pelas raízes baianas de Glauber, traz o sertão, as mazelas sociais entre os patrões e o empregados, os cangaceiros e toda a carga social que esse cenário representa. Manoel o empregado, símbolo do povo brasileiro escapa, testemunha das teses de suas obra.


Sem medo de parecer lugar comum vejo Glauber como um homem incompreendido em seu tempo, atacado por ambos lados (tanto esquerda, quanto direita), seu mundo era permeado pela onda apocalíptica da decadência. O que não pode ser negado é a influencia da Nouvelle Vague e do Neorrealismo Italiano. O que não pode deixar de ser mencionado ainda é o reconhecimento do valor de suas obras com prêmios como no Festival de Cannes. Glauber é tão grande que uma frase sua não deixa de ecoar em minha mente inventar-se antes que os outros o transformem num mal entendido.