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sábado, 5 de abril de 2014

A MERCADORIA ESCANCARADA


            Sempre me pareceu sem sentido a frase “coca cola é isso aí”. Mas me dou conta que minha instrução não abarca a sabedoria do lucro. Aliás é interessante como a sequência de palavras de ordem dessa mercadoria símbolo acompanha os tempos. Começa com um simples “Beba Coca Cola”, que vai de 1886 a 1892, e continua com uma série de orientações a cerca do valor do produto. Em 1900 é o “tônico cerebral ideal”. Ano após anos segue os apelos baseados nos alegados encantos, refrescante, delicioso, revigorante, até que em 1982 vem a revelação “coca cola é isso aí”.



            Acompanhando a maré vitoriosa da economia de mercado e as previsões do fim da história, o produto se torna bíblico e sua apresentação revela uma pujante pretensão ufanista. É o absoluto a mercadoria não se envergonha mais do seu caráter. Seu fetiche se tornou desnecessário. A etiqueta não habita somente o interior da bolsa o verso da camiseta. Sua natureza se espalhou por toda a superfície visível, a mercadoria é um valor em si.




            De todos os apelos de produtos essa é a frase que fica em minha memória. Sua devastadora força marca a rendição das utopias. Talvez não tenha do que me queixar afinal, a coca cola vai orientando meu caminho, já que a inefável entidade divina e o misterioso cotidiano necessitam de uma figuração. Sabemos escrever nossa história a somente 4 mil anos, então como viver sem bezerros de ouro?

domingo, 29 de dezembro de 2013

CARTIER: A DESLUMBRÂNCIA DO LUXO



            Vi em um canal da TV Francesa que estaria acontecendo uma exposição no Grand Palais em Paris com as joias consideradas clássicas da Casa Cartier, daí olhando fotos da exposição pensei o que é apresentado pode ser considerado arte? Já que a maioria de suas joias foram produzidas sob encomendas para as pessoas mais ricas e influentes do planeta. Pois é, já adianto que sim, as considero como art já que a mais de 7 mil anos a joalheria acompanha o progresso e as transformações culturais e religiosas da história do homem, que sempre buscou produzir objetos para se enfeitar e seduzir, satisfazer desejos, construir uma arte e significados dentro do seu tempo.



            As peças da Casa Cartier foram criadas com a função de ornar e satisfazer a vaidade. Assim como a arte, a joia está sujeita a releitura, criação e interpretação, pois possui, elementos visuais como forma, linha, cor e volume. Cartier se encontra no mercado a mais de 170 anos, e está relacionada ao luxo, que pode ser entendido como um elemento raro, precioso, desejável e na maioria das vezes caro e supérfluo, tem uma dimensão muito maior do que dinheiro, pois é anterior a existência a esse meio de troca. Saciar-se em banquetes abundantes de carnes e cobrir-se com a pele do animal mais selvagem, poderia ser considerado luxo em tempos primitivos.



            No consumo de luxo estão relacionados elementos como capital cultural, e capital simbólico, quem não tem nenhuma noção em relação a arte, por exemplo, não sabe apreciar nem compreender o valor de uma obra de arte comprada com um enorme capital econômico e ostentada em casa para demonstrar a detenção de um prestigiado capital simbólico. É como se o capital simbólico fosse composto de capital cultural e econômico ao mesmo tempo.



            A marca francesa Cartier é a mais antiga joalheria em atividade no mundo fundada por Louis François Cartier estabeleceu seu modesto negócio de joias em Paris em 1847. Com uma produção de joias elaboradas e extremamente caras, a marca começou a chamar atenção de membros das cortes reais. Em fins do século XIX a marca se rende a burguesia, como pessoas da família Rothschild (banqueiros que aconselhavam reis e governantes). Em 1902, com a coroação do Rei da Inglaterra Eduardo VII diversas famílias encomendaram seus diademas a Cartier e o próprio disse: Cartier: Joalheiro dos reis, rei dos joalheiros.



            No período das Guerras Mundiais a marca sobreviveu a custas da loja americana, conseguindo manter sua aura de distinção. Embora se aproximando mais de um caráter industrial e produzindo peças mais baratas como relogios de pulso. Nos anos 1960 a marca se associa a moda e cria produtos considerados mais úteis como isqueiros e cintos. Os clientes na modernidade mudaram de aristocracia, para quem brilha no cinema, e passa a ter a cara de Grace Kelly que usou um colar da marca em seu casamento com o principe de Mônaco.  A marca desde então não saiu da mídia e da massificação como o diamante da atriz Liz Taylor. E hoje as celebridades do cinema e da música.



            Ao contar pelo número de informações dadas ao luxo na mídia de modo geral, é uma válvula de escape tão indispensável à atividade humana quanto o repouso, a atividade esportiva, o amor e a oração. Quem não pode tê-lo, continua a ambicioná-lo e encontra alternativas para satisfazer esse desejo: seja através do mercado paralelo da falsificação, seja alugando por um dia jóias, vestidos e bolsas de marcas conhecidas em sites especializados.



            A grife Cartier, em sua trajetória sempre compreendeu os anseios sociais (ou habitus, se preferirmos) com relação ao luxo e age em duas vertentes, dando conta de suas principais manifestações (expressão de riqueza e satisfação de desejos). Na sociedade contemporânea, onde "parecer" é quase sinônimo de "ser", deve ser por isso o alto índice de público na exposição sobre a marca que chega também ao Brasil e de imitações de sua produção. As jóias são íconicas, mas o que se produz hoje apresenta sobretudo um caráter industrial e comercial, muito diferente das peças artesanais e artísticas elaboradas lá no século XIX.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

O LUXO AGORA É PARA TODOS



            Ontem fui almoçar no restaurante chinês da minha Cidade, dizem que se mede o tamanho da cidade quando os chineses chegam para montar seus empreendimentos. Por ser domingo tinha várias famílias que pareciam ter vindo de bairros nas proximidades do Centro da Cidade local, onde fica o restaurante. Percebi um fato curioso muitas mulheres usavam bolsas com monogramas da marca Louis Vuitton. Finalmente o poder e ascensão social vendido pelo mercado de luxo é uma necessidade de todos.



            A marca Louis Vuitton surgiu na França no fim do século XIX, uma época de prosperidades, hotéis e lojas de luxo atendiam às necessidades ampliadas dos moradores que tinham dinheiro. Eugéne a imperatriz, foi uma das primeiras clientes do maleiro, e lhe deu o status de fornecedor preferido de Sua Majestade Imperial. Quando a Imperatriz chegou à Inglaterra causou novidade e cobiça com a suas malas feitas sob medida para suas necessidades.



            As malas de viagem usadas até então, eram feitas de madeira e geralmente cobertas com pele de leitoa, e empilhadas de qualquer forma chegavam ao destino sujas e desgastadas. Um embrião da classe média surgiu e essa nova classe viajava cada vez menos de carro ou a cavalo. Embarcavam de trens barcos a vapor e transatlânticos, rumo a destinos como Estados Unidos, África e Ásia. As malas Louis Vuitton eram o protótipo da modernidade que combinava com esse momento.


            Um fato curioso é que o aumento do sucesso da marca foi proporcional ao número de imitações. O desejo de possuir produtos que eram feitos para a nobreza e classes abastadas se disseminou rapidamente. A marca chegou aos Estados Unidos e ao resto do mundo. E com as divulgações maciças da mídia, o uso pelas celebridades, a nova nobreza no inconsciente coletivo e o desejo de todos chegarem a esse estilo de vida, de luxo e riqueza, é cada um pode ter sua Louis Vuitton, não importa a procedência, mas o prazer inconsciente que a marca vende.