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quinta-feira, 24 de julho de 2014

NARA LEÃO INTERPRETAÇÃO APURADA E OUSADIA MUSICAL


            Nara Leão foi considerada musa da Bossa Nova, sua interpretação da música A Banda é magistral. Tinha de 14 para 15 anos quando o apartamento de seus pais na Avenida Atlântica, em Copacabana no Rio de Janeiro, virou ponto de encontro dos amigos, todos mais velhos que ela que passavam as noites tocando violão, compondo e conversando sobre música. Sylvia Teles, Roberto Menescal, Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli eram uns dos frequentadores mais assíduos das famosas reuniões. Pelas quais também passavam Tom Jobim e João Gilberto. Tudo isso quando a Bossa Nova começava a nascer.



            Nara Leão não foi musa apenas da Bossa Nova, foi uma artista que marcou a música brasileira. Foi musa da música de protesto e da tropicália. E essa é uma das suas características mais marcantes, já que passou 20 anos cantando quando era, na verdade soprano: a de não se prender a formato algum. Em 1966, rompeu com a Bossa Nova, período que coincidiu com o fim do seu noivado traumático com Ronaldo Bôscoli.




            Nara Leão foi uma das grandes mulheres do cenário artístico nacional. Fez o que quis da sua vida, da maneira que quis, com ferrenha dedicação em tudo. Deixou a carreira de lado para se dedicar a maternidade, escolheu seus relacionamentos a dedo, fez todos os discos que teve vontade, mesmo indo contra a corrente, lançou moda, atacou a ditadura, estudou psicologia. Cantou samba, Bossa Nova, cantigas de roda, chorinho, música popular, americanas, música de seresta, protesto e até música dançante. Lutou como pode por sua independência, pelos seus ideais e pela vida, a única batalha que não conseguiu vencer, vencida por um câncer em 1986.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

CHICO BUARQUE O CANTOR DAS MULHERES


            Desde o início do blog quando me propus a escrever sobre músicas e cantores que eu gosto numa opinião absolutamente pessoal, pensei em falar sobre Chico Buarque minha primeira e grande paixão musical. Chico para mim sempre foi tão grande que nunca soube por onde começar esse texto. Hoje no seu aniversário de 70 anos resolvi falar sobre o que considero que ele fez muito bem, que foi fazer música para as mulheres, assumindo um lirismo doce e feminino.


            A primeira música em que ele deu voz a mulher foi na primeira pessoa com “Com Açúcar com Afeto”, em 1966 encomendada por Nara Leão. A letra fala da mulher submissa que com amor e paciência espera o marido em casa. É bem verdade que na família enquanto crescia Chico conviveu mais com mulheres do que com homens. Chico nunca aceitou o lugar comum de que conhece bem a alma feminina, para ele o ser mulher é um grande mistério.


            Mas ele é um mestre na dificílima tarefa- de sendo homem- criar músicas que só ganham significado quando cantadas por mulheres, são aquelas que trazem tão forte a maneira feminina de viver as grandezas e torturas do amor apaixonado. A canção “Olhos nos Olhos” interpretada por Maria Betânia tornou-se um grande sucesso popular. Chico consegue tocar em regiões tão doloridas e sensíveis das pessoas com tal talento e delicadeza que o gosto amargo se dissolve em pura poesia.



            Poetas e escritores tem a capacidade de representar aquilo que não vivenciaram. Chico imaginou o trabalhador sem perspectivas de “Cotidiano” ou o operário desesperançado de “Construção” sem nunca ter sido uma coisa nem outra. Retratou a morena de Angola sem jamais tê-la visto. Assim descreveu tudo o que uma mulher sente ao ser abandonada em “Olhos nos Olhos” ou em “Atrás da Porta”, e carregou na tinta da emoção ao falar como a mãe pobre e ingênua do marginal de “O Meu Guri”. Grande Chico!

quinta-feira, 12 de junho de 2014

COLHEITA O SAMBA BOM DE MARIENE DE CASTRO


            Conheci a baiana Mariene de Castro no disco Ser de Luz em que ela interpreta músicas da sambista Clara Nunes. Recentemente comprei seu mais novo disco Colheita lançado em fevereiro de 2014. O disco expõe seu sincretismo musical com forte brasilidade e musicalidade nacional tocante. Suas músicas são elegantes, e ela já figura na lista das grandes cantoras brasileiras, ela tem a força que vem de raiz como diz o título do samba antigo Roque Ferreira.



            O samba do disco é interpretado com fé e expressa a melhor tradução do povo brasileiro. O reportório reúne 14 canções impecáveis, amparadas por um time de músicos de primeira. São sambas que vão dos filosóficos aos divertidos com letras que trazem temas como fé, amor, respeito, trabalho, esperança, luz, alegria, coragem e paz.




            Mariene tem profunda influência de Clara Nunes, mas não a imita. Sua voz tem fluência admirável, sem esforço, ela vai do grave aos tons altos, com uma segurança de quem sabe o talento que possui. Colheita é um disco refinado, mas que precisa emplacar e ser conhecido e ouvido pelo grande público. Mariene é uma grande cantora e hoje colhe frutos do seu talento.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

ROBERTA SÁ canta Falsa Baiana


Esses dias tenho visto vídeos da cantora Roberta Sá em especial sambas da década de 1940 gravados por ela num disco de 2004 chamado Sambas e Bossa gosto notadamente da música Falsa Baiana de Ciro Monteiro. Sua interpretação é primorosa porque evidencia um ressurgimento do samba entre os jovens. Sua sensibilidade Pop que é difícil de definir mas se faz sentir em todos da sua geração chegam ao samba pela via da MPB e da Bossa Nova refletindo no momento atual do samba.



O que se percebe na gravação de Roberta Sá é que sua Falsa Baiana é atravessada principalmente por elementos de três tradições: o samba, a MPB/Bossa Nova e, não sei bem em que medida consciente ou inconscientemente, a Música Pop foi introduzida, mas isso fica claro pela maneira com que ela arredonda os saltos da melodia, mudando a entonação, e como ressalta os fins da frase colocando um vibrato leve, usando esse recurso, de uma forma totalmente diferente dos cantores de samba tradicionais.



O que mais gosto de suas apresentações é a tentativa de cantar como os cantores da velha guarda variando a divisão melódica e tentando sugerir leveza, despojamento e até uma certa irreverência. Sua maneira de cantar usando a voz limpa, aproveitando o ar sem forçar demais e no entanto, mantendo homogeneidade e regularidade na intensidade das notas em cada frase, revela com relativa clareza que estão em jogo ali referenciais do que é cantar de forma afastada dos intérpretes tradicionais como: Zeca Pagodinho, Clara Nunes ou Beth Carvalho.




            Tenho especial predileção pela interpretação da Falsa Baiana de Roberta Sá, pelo frescor e novidade que trouxe para a velha composição dos anos 1940. Com ela a composição se mostrou um samba mais corporificado, por outras tradições além de trazer o lastro histórico que dá uma carga simbólica específica a cada uma delas, entrando portanto na própria constituição da canção. Música das boas para ser ouvida sem moderação. 

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

CARMEN MIRANDA E SUA BAIANA


            A década de 1930, assistiu no Brasil a construção de uma nova identidade nacional, onde elementos das camadas populares foram incorporados a ela. A construção dessa identidade tinha como agente o Estado e diversos elementos sociais. Carmen Miranda foi o maior ídolo popular da época e a cantora mais famosa daqueles tempos, chegando a representar o Brasil no exterior.



            O desenvolvimento do rádio como novo meio de comunicação foi fundamental na construção dessa nova identidade. Antes de ser a baiana, sua imagem pública suas canções traziam o modelo de uma mulher bem sucedida, batalhadora, bela, sedutora. Na música as Cantoras do Rádio, essas mulheres eram as matriarcas que uniam o país de norte a sul.



            Carmen em suas canções popularizava a nação e vivenciava as narrativas de suas canções. Resumia a imagem que se queria da capital brasileira: Rio lindo sonho de fadas. Noites sempre estreladas e praias azuis. Rainha branca do samba, em suas canções a natureza era personificada bem como as cidades e as grandes massas populares.



            A baiana foi sua marca mais forte, Em 1939, num momento fortemente influenciado pela aversão estatal à figura do malandro, foi gravada “O que é que a baiana tem”. É um samba típico baiano de Dorival Caymmi, que, além de compositor, também a ajudou a montar o figurino de baiana e participou da gravação da música para o filme “Banana da Terra”.


CM: O que é que a baiana tem?
Coro: O que é que a baiana tem?
CM: Tem torso de seda, tem (tem)
Tem brinco de ouro, tem (tem)
Corrente de ouro tem (tem)
Tem pano da Costa, tem (tem)
Tem bata rendada, tem (tem)
Pulseira de ouro tem (tem)
Tem saia engomada, tem (tem)
Tem sandália enfeitada, tem (tem)
E tem graça como ninguém
Coro: O que é que a baiana tem?
CM: Como ela requebra bem
(...)
Coro: O que é que a baiana tem?
CM: Um rosário de ouro
Uma bolota assim
Ai, quem não tem balangandãs
Não vai no Bonfim
Oi, quem não tem balangandãs
Não vai no Bonfim.



            A cantora mais famosa do Brasil, identificada com o Rio de Janeiro, nessa música passava a se apresentar vestida com os trajes típicos das negras da Bahia. Na verdade, a imagem de baiana construída por Carmen não foi uma cópia fiel das baianas que vendiam comidas em Salvador. Ela selecionou alguns elementos dos trajes dessas baianas e acrescentou outros. Foi algo muito chocante para a época: uma cantora que sempre havia se vestido dentro das tendências da moda urbana do Rio de Janeiro, nesse momento construiu um figurino totalmente distinto. Mais impressionante ainda foi o resultado disso.




            Carmen teve um claro feeling para se tornar “mais brasileira”, ou seja, mais aceita pelo imaginário nacional, a figura da baiana. A baiana, como o próprio nome diz, não deixou de ser uma figura regional, mas as alterações feitas pela cantora deram a ela a possibilidade de, além disso, também ser nacional. Seu papel ultrapassava a bela voz e o requebrado e ajudavam a consolidar a imagem cultural que temos do Brasil.