sábado, 4 de janeiro de 2014

LAGOSTA À THERMIDOR: UM PRATO SAUDOSISTA



            Indiscutivelmente A Lagosta à Thermidor tem tudo de bom. Não só apresenta um dos ingredientes mais sofisticados de qualquer despensa, mas o combina com um dos mais ricos: queijo, creme de leite, vinho e conhaque. Este prato já ficaria delicioso se fosse servido numa simples travessa branca, mas naquela casca magnífica, é um espetáculo para os olhos, nariz e pupilas gustativas. O calor daquela armadura avermelhada adicionado ao aroma da praia, assim como chega a sua mesa, é o paraíso! E ainda tem o melhor nome: Thermidor.



            Os revolucionários franceses rebatizaram os meses com nomes que tinha a ver com o clima! Termidor fazia referência ao calor do verão, e ficou famoso por um dos últimos acontecimentos violentos da Revolução, quando Robespierre foi denunciado, preso e decapitado.



            O prato foi criado em 1894, quando o acontecimento histórico mencionado virou peça de teatro em Paris, o restaurante que mais cresceu foi o Chez Marie cuja placa tinha Hoje Lagosta Thermidor. A peça teatral não conheceu sucesso, o prato então, tornou-se célebre, sendo um sucesso instantâneo desde a sua criação. Chefes de toda Paris incluíram essa pequena joia em seu arsenal culinário e a levaram com eles conforme viajavam pelo mundo.



            Na mesma época, com a França vivendo sua Belle Époque, muitos visitantes vinham experimentar os vinhos finos e a comida, e os procuravam nos restaurantes quando voltava para casa. Nos Estados Unidos tornou-se popular quando Julia Child publicou uma receita por volta de 1960. O que me impressiona é o poder que este nome tem ainda hoje. Ver Lagosta à Thermidor no cardápio é um sinal de noite especial.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

PALAVRAS NO VENTO



Meu pai me deu ao mundo  sem ter mais o que me dá
Me ensinou a jogar palavra no vento para ela voar
Dizia: filha palavra tem que saber como usar
Aquilo é que nem remédio cura, mas pode matar


Cuide de pedir licença antes de palavrear ao dono da fala
Que é quem pode transformar o que você diz em flecha que chispa no ar
Quando o tempo for de guerra e você for guerrear, use pétalas de rosa se o tempo for de amar. 
Palavra é que nem veneno mata ou pode curar. 



Diga sempre o cuidado que se deve dedicar as forças da natureza: o bicho, a planta, o mar;
Palavra foi feita para se gastar, acaba uma, vem outra que voa no seu lugar.
Palavra é que nem veneno mata ou pode curar.



Ainda ontem lá em casa quando cozia o jantar lembrei da voz do meu pai que o vento trouxe a vagar, dos casos de outras eras que desandava a contar.
Gostava de ouvir sua voz, com mundos a inventar, minha cabeça rodava de tudo que ia contar e ainda hoje, quando para me sustentar, palavras no vento eu continuo a jogar.




quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A BOA MÚSICA DO CLUBE DA ESQUINA



Clube da Esquina é um disco lançado em 1971 por Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes e Toninho Horta. É um disco de profunda musicalidade, com: música instrumental; regionalismo; latinidade; religiosidade; rock; jazz; arranjos bem definidos e a música brasileira das décadas anteriores. Gosto do disco porque ao ouvi-lo me remeto de imediato o clima de serenatas e rodas de violão, soa despojado.



É uma obra que busca superar o óbvio o que se toca recebe influencias de Clementina de Jesus a Beatles. Ouvindo as músicas é inevitável não lembrar das tradições populares e das festas de rua do interior de Minas Gerais. A influencia da Bossa Nova no Grupo, completa no que vou chamar aqui de hibridização cultural, em que valores relativos a cultura de elite, convivem com práticas ligadas aos meios populares e a cultura massiva.



É um música despretensiosa, que não tem a intenção de ser vanguardista, nem popularesca, é feita para o homem da cidade em si, o homem moderno, por isso,  mais de quarenta anos de lançamento ainda se encontra uma certa dificuldade em classificar o disco dentro de um padrão musical. Acho essas classificações antes de qualquer coisa, mercadológicas.



Suas músicas mostram um mundo próprio, capaz de ser cantado e alcançado como nos versos: Eu já estou com o pé nessa Estrada/
Qualquer dia a gente se vê/
Sei que nada será como antes, amanhã/ Que notícias me dão dos amigos/
Que notícias me dão de você/ 
Sei que nada será como está/ Amanhã ou depois de amanhã/ Resistindo na boca da noite um gosto de sol.



Lançado num momento político em que o Brasil vivia os horrores da Ditadura Militar, o disco com suas músicas e seu lirismo doce, exala perfume no jardim seco que o Brasil vivia. O disco é a expressão da música que soube conviver com seu tempo, seus medos, angústias, derrotas, mas que não desistiu. Ouvindo o disco tenho a sensação de uma doce tristeza mas não chega a ser uma sensação de melancolia porque logo começa uma nova música, capaz de trazer alegria e sensação de que é possível sempre ser alegre ouvindo de novo.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

ESTOU CANSADA DE NOTÍCIAS



            Paul Valery, o filósofo francês confessou que as notícias o entediavam, dita no contexto entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, parecia que os acontecimentos causariam qualquer coisa, menos tédio. Já é estranho que as coisas aconteçam ler sobre elas é mais maçante ainda. Esses dias em que estou sem atividade profissional, tenho sido bombardeada por uma avalanche de notícias, mas afinal de contas se a vida é o que acontece quando não se está prestando atenção, o ideal seria que ninguém nos chamasse atenção para que está acontecendo afinal se poderia viver melhor.



            Já vivi uma época de minha vida que radicalizei, não queria mais ouvir, ler ou ver notícias, me informaria o mínimo possível sobre o mundo. Mais que uma benção a ignorância pode ser uma forma de saúde, e a omissão um tipo de ecologia. No mundo em que vivemos, com a velocidade das informações, já sabemos seja como for muito.



            2014 promete ser um ano que já nasce a expectativa de uma copa do mundo, prossegue a tediosa sombra da explicação sobre as eleições e desfia sua sucessão maçante de eventos, vernissages, violências, novas novelas e escândalos políticos. Penso que a informação se encontra as voltas com uma aura de fetichismo desmensurado em informar ilimitadamente.



            Fico pensando que em 2014, vai ser difícil não acordar e ser noticiado pela preparação dos jogadores, treinos secretos e expectativas de substituições. Vamos está atualizados minuto a minuto com o resultado dos jogos. E as eleições? Ah essas vêm revestidas de um sabor singular, por serem nacionais virão com elementos de tragédia ou farsa onde recorrem a reações delicadas como: a vingança, o insulto, o despautério, a desforra. Reações comuns a esses dois grandes acontecimentos.



            A imprensa parece não está interessada em frear a suas obsessão pelos detalhes, o único problema é que num romance são saborosos, na vida pública cansativos. A quantidade de informações é tanta que sufoca, é bom indo nos preparando porque 2014 é um ano que promete.