sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O PROCESSO DE KAFKA



            O Processo é considerado como o melhor livro do Tcheco Kafka paradigma da literatura moderna mundial, o mais interessante é que se trata de uma obra inacabada, como se estivesse em processo de construção. O livro apresenta as mais diversas explicações para sua origem desde as biográficas que tentam achar a vida de Kafka na obra as psicológicas que vem o texto como elementos do superego do autor.



            Entendo o livro como uma crítica a burocracia do Estado e a própria lei. Pelo título imagina-se que se trata de um processo jurídico, mas não é, pela leitura se descobre um tribunal que não é convencional, os convencionais se encontrariam dentro desse tribunal maior a que ninguém tem acesso, além do mais não é um único processo que está em questão. O romance mostra a existência do Josef K que vai se degradando a cada capítulo.  



            O livro começa dizendo que alguém deve ter caluniado Josef K, mas que este não teria feito mal algum é aí que reside o melhor da obra porque é levado ao pé da letra os efeitos que uma calúnia pode ter na vida do indivíduo, ele pode ser aniquilado psiquicamente e socialmente como K. A história é construída dentro do cotidiano corriqueiro o que aproxima de nós, o pesadelo do protagonista não é onírico é real ele assim como nós é mero objeto em poder das instituições modernas.



            O Processo é um livro marcado pelo desencantamento do mundo e pela racionalização que o homem deveria ser levado ao esclarecimento proporcionado pela vida moderna. A linguagem aponta para um componente entre dominador e dominado. A ação e a caracterização dos personagens mostra o que há de desprezível e parasitário nos detentores do poder, bem como o sofrimento que imprimem na vida dos impotentes. Obra magistral e essencial para compreensão do nosso mundo e das instituições que estamos submetidos. 

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

TEMPOS POLITICAMENTE CORRETOS



            Estive pensando e vi que vivemos tempos politicamente corretos, se você se comportar de acordo com os seus valores e convicções sem ligar para regras e modismos da sociedade, você pode ser rotulado como uma pessoa politicamente incorreta, essa balança de atributos morais que muda de tempos em tempos entre as sociedades e culturas patrulha todos os tipos de comunicação, nem o literário Monteiro Lobato escapou de ser chamado de racista com a obra, Caçadas de Pedrinho publicada no século XX. Na música talvez a clássica Cabeleira do Zezé seria hoje considerada um hino homofóbico.



            O politicamente correto tem origem nos Estados Unidos num momento em que as pessoas tinham que ampliar a Educação doméstica. É a convivência com grupos que não se conviviam antes e tinham que aprender a evitar piadas de mau gosto como determinadas coisas que os homens só falam entre si quando não têm mulher por perto. Acho que até certo ponto faz sentido, a minha crítica é que ele se transformou tanto na mídia, como na imprensa ou no mundo acadêmico como um jogo de poder de certos grupos para na verdade, atrapalhar as outras pessoas e lançar a pecha de reacionário, o que acaba barateando o debate. Hoje todo mundo se ofende com tudo e o empobrecimento me parece, é sempre indicativo de censura.



            O politicamente correto se alimenta do medo de ser processado, hoje todas as palavras devem ser medidas e pensadas, antes de ser dito. O excesso também é prejudicial como as pessoas que se comportam de forma politicamente incorreta todo o tempo, porque rotulam os grupos e as pessoas como se isso fosse possível. Uma coisa tenho por certo, esse debate têm que ser feito de forma cuidadosa, para não ser usado por oportunismos ou mesmo ideologias de direita ou esquerda, mas com cuidado e ponderação. 

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

O GABINETE DO DR. CALIGARI



O Gabinete do Dr. Caligari de 1920 é o tipo de filme que interessa aos que estudam, discutem e trabalham com as questões relacionadas ao cinema. Filme de estilo expressionista com aspecto claustrofóbico e cenários feitos de papel. Em um jardim ermo o jovem Francis conta a um homem neurótico e atormentado os acontecimentos que o traumatizaram. Alguns tempos antes a cidade de Holstenwall foi visitada por Dr. Caligari, um charlatão que frequentava feiras de variedades com o seu sonâmbulo Cesare. Enquanto Caligari apresenta seu número na feira, Cesare faz profecias de morte que mais tarde se concretizam, porque o sinistro doutor manda seu escravo-zumbi para cometer os crimes que ele previra.



No fim descobre-se que Francis é paciente de um manicômio e que sua história não passa de uma fantasia delirante povoada pelos demais internos e pelos funcionários do local. O filme é uma denúncia de um mundo novo de um novo século, mas povoado de loucuras e hipocrisias. Os cenários não realísticos e com sombras pintadas e perspectivas distorcidas eram uma estratégia para perturbar os espectadores.



O filme tem uma estética peculiar e é exemplo inicial da mistura entre cinema de arte e cinema comercial, uma estranheza rebelde coroada para agradar o gosto burguês que o filme pretendia. Filme essencial para o desenvolvimento do cinema e da imaginação, além de marco inaugural de diversos elementos do cinema de horror. Para mim diversão garantida. 

sábado, 18 de janeiro de 2014

A COZINHA BRASILEIRA DE ALEX ATALA





Alex Atala é considerado como o melhor chefe brasileiro, seu restaurante em São Paulo ficou em 4º lugar entre os melhores do mundo. Sua fama se deve ao dom que tem de transformar coisas simples em iguarias, ele faz um arroz com feijão dos deuses, mas sabe encantar refinados paladares com sabores tipicamente brasileiros. Me interesso por sua produção, seus livros e críticas sobre seu trabalho porque a comida é uma representação da sua cultura e trabalhar com alimentos brasileiros é a sua grande sacada.


Seu trabalho tem contribuído para a criação de imagem mental internacional sobre os sabores brasileiros. Faz parte de uma geração que viveu a transformação de cozinheiro canônico preso somente ao ambiente da cozinha, pelo cozinheiro celebridade, influenciado por nomes como o espanhol Ferran Adrià. A sua proposta central é produzir pratos que respeitem as sensações adquiridas no paladar doméstico, cotidiana, familiar maternal brasileira no seu restaurante.


Dentre a culinária brasileira regional seu foco central está na cultura da Amazônia, embora recorra também a região do Cerrado e a toda área litoral brasileira. Sua brasilidade pode ser mensurada na busca das raízes por uma cozinha brasileira, pós colonização portuguesa onde encontramos alimentos variados indo da tripa ao quindim.


            Gosto do trabalho de Atala porque ele mostra que no Brasil existem produtos e receitas capazes de executar a gastronomia no sentido mais amplo da palavra, não estando esta restrita apenas a produtos caros e difíceis. Ele mostra que as nossas cozinhas de base são famosas não porque são simpáticas, mas porque são boas e que é possível transforma-las em alta gastronomia. 

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

REVENDO CLARICE



            Em vários momentos de minha vida, inusitadamente os mais difíceis sempre recorri a obra de Clarice Lispector, credito ao seu livro A Descoberta do Mundo, grande parte do meu entendimento sobre o mundo. Clarice revela sua alma através de sua escrita, em trechos simples pode-se sentir isso como: por que o cão é tão livre? Porque ele é o mistério vivo que não se indaga.


            Filha de família Judia, Clarice nasceu em 1920 na Ucrânia, criou-se no Nordeste brasileiro e fez carreira no jornalismo e na literatura no Rio de Janeiro, então capital do país. Viveu o Rio em seu apogeu de cidade culta, cosmopolita, centro do poder político nacional e ainda sem a barbárie atual.


            Marcou desde a estreia a impressão crítica e do leitores por traços raros no cenário da língua portuguesa: fez diminuir o valor do enredo e arredou para o fundo do palco o registro da vida social que foi a tônica da geração anterior à sua no romance, tudo isso em favor de uma elaboração mais sutil da linguagem, um empenho para imprimir na superfície do texto as tensões profundas de suas personagens.


            Ela sempre foi mais do que uma novidade psicológica, mas alguém que tinha uma tentativa de fazer a linguagem ser ela mesma um elemento de interesse para o leitor, que era convocado a aderir a ficção num patamar inédito no Brasil. Sua obra durante a sua vida só cresceu, ela queria que a revelação se fizesse ali, diante dos olhos do leitor diante daquelas palavras que sua prosa ia dispondo por meio de frases enganosamente lineares.


             Clarice sempre me deu alimento, com sua ficção que se vale de traços auto piedosos, o que nem de longe apaga a força dos seus acertos, que ocorrem especialmente quando sua literatura confronta os limites da representação do real vivido. Sua escrita é tão profunda que ela queria a vida e a arte ao mesmo tempo.