quarta-feira, 13 de agosto de 2014

SOBRE A SOLIDÃO


            Talvez a solidão não seja simplesmente falta do outro, mas nada mais do que a falta de nós mesmos. O homem é um ser social que necessita compartilhar sua afetividade, que necessita está com o outro. O ser humano necessita compartilhar, mas para isso é necessário ter algo a oferecer e não simplesmente algo a receber. O homem que não tem vida interior vai esperar que o sentido de sua vida seja preenchido pelo outro. Evidentemente o sentido de sua vida não pode ser preenchido pelo outro tem que ser encontrado por você mesmo.


O isolamento externo nasce do interno, da falta de vida interior, de termos um conteúdo com o qual compartilhar, da falta de um diálogo interno conosco mesmos. Uma das ferramentas filosóficas que se colocam como necessárias para que o homem esteja acompanhado de si próprio é exatamente a solidão. Solidão no sentido de você avaliar o seu dia, a sua vida, buscar as respostas dentro de si mesmo para a sua motivação, para os seu direcionamento, quais são os seus princípios, o porque de você está fazendo as coisas. O homem que convive saudavelmente consigo mesmo normalmente ele não sofre de isolamento.


            Nós vivemos em uma sociedade que os apelos externos são muito grandes, vivemos virados para as circunstâncias para o barulho do mundo e fugimos de nós mesmos, talvez pelo medo do que iremos encontrar se nos virarmos para dentro. A vida assim como a natureza tem fases de recolhimento e expansão, necessitamos de períodos que nos façam refletir sobre nossas raízes. Tenho a impressão que na nossa sociedade contemporânea com todo o aparato tecnológico ao nosso alcance o ser humano conhece muito sobre as coisas e pouco sobre si mesmo.



            A grande saída para essa sociedade de “N” estímulos é você buscar aquilo que você não é, ou seja, sua individualidade. Solidão é a possibilidade do costume a reflexão, de um encontro marcado com a própria alma. Com a reflexão abrimos a possibilidade de perceber que o outro é como nós um ser humano que necessita de preenchimentos, vivemos no mesmo drama humano, estamos todos juntos.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

MEIA NOITE EM PARIS DE WOOD ALLEN


            Meia Noite em Paris (2011) é daqueles filmes que emanam toda a magia e sedução do cinema. Wood Allen chega a Cidade Luz para contar a sua mais bela história de amor em anos não tendo medo de carregar nas tintas do realismo mágico. Seu alter ego chama-se Gil (Owen Wilson), um roteirista norte americano frustrado noivo de Inez (Rachel McAdams), que pretende morar em Paris, mas ela discorda totalmente da ideia. A Cidade exerce um fascínio tão grande sobre Gil que ela acaba fazendo uma viagem aos anos 1920 e lá encontra os principais escritores e artistas da época, além de encontrar a si mesmo.



            Nessa viagem aos anos 20 ele encontra de forma casual os escritores F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway, o músico Cole Porter, o pintor Pablo Picasso e o cineasta Luis Buñuel, entre outros. A naturalidade dos encontros é o elemento cômico do filme, mas Allen pretende encantar muito mais do que fazer sorrir. Quando ele mostra os consagrados artistas em seus aspectos mais humanos invejosos ou envolvidos em enlaces amorosos. Vê-los como pessoas comuns, é aí que está o encanto da película, de forma simples sem necessidade de efeitos especiais. 


            Paris é o cenário perfeito para essa história ser contada, com a preservação de antiguidades e palco de diversas manifestações e movimentos artísticos. Marion Cotillard é quem faz a melhor atuação do filme na figura da bela Adriana uma moça dos anos 20 estudante de Alta Costura que seduz Gil, teria servido de modelo para um quadro de Picasso e atrai olhares do seu mundo de convívio. Adriana e Gil vivem uma história de amor que parece impossível, mas acredito ter sido possível porque a partir do encontro dos dois é que eles se encontram, mesmo em mundos e épocas diferentes.



            Gil é um homem inseguro, indeciso, mas que sabe o que quer da vida. Escrever um romance, deixar de escrever roteiros de cinema e morar em Paris. E ele escolhe ficar, na cidade encantadora mesmo quando está chovendo onde cada esquina serve de inspiração artística seja para pintores, escritores ou cineastas. Filme adorável de magnífica inspiração.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

A IMPORTÂNCIA DA BOSSA NOVA E DO MOVIMENTO TROPICALISTA


            A vida vem em ondas como o mar, assim como os reencontros com o passado, senti isso ao comprar uma coletânea de músicas dos movimentos da Bossa Nova e do Tropicalismo, momentos marcantes da cultura brasileira na segunda metade do século 20 que continuam a bater às portas da atualidade. Vista por alguns como manifestações antagônicas,  a Bossa Nova e o Tropicalismo demarcam uma década de intensa criatividade na cultura do país e de importantes acontecimentos em sua vida política. Entre 1957 e 1958 pode-se dizer que “tudo” aconteceu.



            É preciso reconhecer que o tropicalismo como movimento estritamente musical pouco teve de bossa novista, quando se pensa na insuperável formalização de gênero, realizada por Tom, Vinícius e João Gilberto, este bem mais do que um mero intérprete, na verdade um dos inventores da coisa, ou o inventor. A invasão tropicalista era diferente, ruidosa e se fez acompanhar do mais moderno conjunto de rock da época, o paulista Mutantes, e de orquestrações vanguardistas que mesclavam instrumentos tradicionais e modernos.



            Enquanto a melhor tradução bossa novista, semanticamente superada pelos novos ventos políticos, era substituída pelo samba jazz e assemelhados, e ecoava o conteúdo engajado das letras de protesto, prosperavam os gêneros comerciais clássicos dos anos 60 que mostravam elementos da emergente cultura de massas de uma Brasil que já era bastante internacionalizado. Esses guardiões do templo, queriam erguer um dique contra a invasão imperialista.




            O tropicalismo era uma bomba cultural que propunha na música o que já vinha sendo feito em Terra em Transe de Glauber Rocha ou no Rei da Vela montado por Celso Martinez Correa. Obras que se inserem dentro da temática modernista antropofágica de Oswaldo de Andrade. É difícil superar a Bossa Nova, algo que atingiu um grau de sofisticação e acabamento formal absolutamente invejável e alcançou reconhecimento tão amplo, mas, no sentido de tentarem recriar a música brasileira os dois movimentos se completam e o tropicalismo não deixa de ser bossa novista.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

ARTE APAIXONADA


            O amor acompanha a humanidade desde sempre é o que os antropólogos chamam de “universal” já que está presente em todas as culturas. O que muda são as formas que ele assumiu ao longo dos tempos. Elaborei uma lista das principais manifestações sobre o amor retratas através das artes, usando como critério de escolha a relevância histórica de cada manifestação artística.


            Memi e Sabu (2465. a.C.)- no antigo Egito estátuas de casais eram colocadas para embelezar as tumbas da elite local e simbolizavam a união eterna. Na inscrição ao pé da estátua o casal é identificado como Memi e Sabu. Apesar do texto não identificar a relação entre eles, acredita-se que eram marido e mulher.


            Vênus de Milo (século 2 a.C.)- os gregos adoravam dois deuses do amor Afrodite e Eros, a quem eles recorriam para pedir ajuda para se lamentar. A estátua grega mais conhecida no mundo é a de Afrodite, conhecida pelos romanos por Vênus, que também era a deusa da beleza.


            Oferenda do Coração (século 15)- durante a Idade Média, surge a ideia de amor cortês. Esta tapeçaria é um exemplo do culto do homem a mulher amada, na figura ele oferece literalmente seu coração a uma bela mulher medieval.


            Eros e Psiquê (1798)- a história de Eros (ou cupido para os romanos) é um exemplo de amor entre deuses e mortais, tema recorrente entre os antigos gregos que foi retomado pelo neoclassicismo.


            Boating (1874)-  quadro do francês Édouard Monet retrata cenas da vida cotidiana de casais do século 19. Jovens que escolhem seus próprios acompanhantes e passeiam sozinhos como esses dois, que navegam tranquilos e apaixonados no rio Sena.


            O Beijo (1886)- escultura do francês Auguste Rodin, uma das mais famosas do mundo representa os amantes adúlteros Francesca e Paolo, que, na obra do italiano Dante Alighieri foram mandados ao inferno por seu amor ilícito. Ela simboliza a tragédia da paixão proibida e sem esperanças.


            E o Vento Levou (1939)- no fim dos anos 1930, foi lançado um dos maiores sucessos do cinema de todos os tempos. A história de amor entre a órfã Scarlett O’Hara e o aventureiro Butler. Retrata as dificuldades de uma paixão para vencer os limites impostos pela sociedade machista e patriarcal.


            O Beijo do Hotel De Ville (1950)- o francês Roberto Doisneau fotografou, em 1950, um casal até então anônimo se beijando em frente ao Hotel de Ville em Paris. A foto virou um símbolo do amor público, desinibido, livre de qualquer barreira social.



            O Beijo (1969)- o espanhol Pablo Picasso pintava todas as mulheres que se apaixonava e foram muitas. Em seus quadros elas surgiam em movimento de transição, acho O Beijo uma das suas obras mais significativas, dentro da temática amor.